sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Só eu ?

Todo Amor que Houver Nessa Vida

Composição: Frejat/ Cazuza

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Felicidade é amizade

Fui enlaçada pelas palavras que este menino utilizou com um olhar único, poético, sobre uma “menina que logo moça virou mulher”.
Apaixonei-me pelo conto.
No princípio não percebi as vírgulas de grande malícia que pontuavam cada respiração da menina. Fui com um primeiro olhar inocente, mas tudo foi se encadeando e pude constatar a inspiração e criação "TitoRodrigueana".
Com o desenrolar do conto a menina cresceu e cresceu também sua audácia, sua leviandade e sua dor. Fascina a forma como o Tito finaliza o conto. Envelhece a personagem com a redenção e penitência indireta pelos seus atos imorais da juventude em uma vida conjugal nada feliz.
O encontro do conto com a peça coroa esta relação de casal, “Casal para Nelson”, que apesar de utilizar o conto como fundação, só o apresenta no subtexto da pequena peça.
Este texto para mim é muito expressivo, marcante e exige de mim uma densidade ainda não experimentada.
Agradeço ao Tito por esta oportunidade e tenho orgulho de tê-lo como amigo, colega de trabalho, diretor, afilhado... sempre.

Postado por Priscilla Leão às 17:20
http://reflexaodeumleao.blogspot.com

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Todo artista trabalha na própria tristeza.

domingo, 24 de outubro de 2010

O real nome das coisas

O pensamento pequeno burguês algum dia pertenceu somente aos reais burgueses falidos? Eu encontro esses estilos em tantos lugares, esse pensamento pequeno e apertado dentro das cabecinhas bem penteadas. As pessoas acham tão sofisticado o pudor da ignorância... O negócio é que tem muito protagonista pra pouco enredo. Como a máxima das mães: "ele ta fazendo isso pra aparecer", que criança nunca soluçou ao ouvir isso da própria mãe, enquanto você plantava uma bananeira para impressionar a sua namoradinha platônica de 29 anos? E é assim, o pequeno burguês encontra alguém feliz em uma lacuna social e vem com tudo te arrastar pro mercado de capitais... Tudo bem que às vezes as coisas se criam assim, mas eu faria mais força para evitar, do que para remediar, alguém já viu o Sol querer brilhar mais que a Lua no meio de uma madrugada, só porque ficou com inveja da noite ser mais sensual que o dia? As coisas são tão simples, cada um do seu jeito e o mundo acolhendo (ou pisando) os que sabem viver... Alguém me perguntou pra que fazer tantas coisas ao mesmo tempo se nenhuma delas dava dinheiro, dinheiro? Dinheiro? E o que eu faço com o resto da vida?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pra fora.

Os seis navios.

O primeiro refugou e voltou à praia com as ondas.
O segundo não acertou os tributos e foi caçado ainda no porto.
O terceiro não tinha motivos para partir, nem homens e nem objetivos.
A quarta nave partiu e jamais alguém soube por onde navegou ou se ainda navega.
Antes que se pudesse contar sobre a quinta embarcação, essa voltou tomada por mulheres grávidas, de onde não sabemos o que esperar após os nove meses.
Já o sexto voltou com um tripulante que jura e narra aventuras impensáveis, trouxe plantas desconhecidas e animais jamais vistos, artesanato incomum e temperos amargos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tudo isso que a gente nem vê

Vi uma peça linda, reconheci um estilo forte de atores quase babando no palco, eu sou fã do minimalismo das coisas, mas confesso que a força me arrebata. Alunos que subiram no palco e se formaram a cada frase, um diretor obcecado que criou um degrade nos olhos da platéia. Ritmo, luz, choro. Arrepiei diversas vezes, passei até uma vergonha que geralmente eu não passo, fui atrás do diretor, abracei e agradeci verdadeiramente. Tive vontade de beijar todas as atrizes na boca. A peça foi delas. Não existia um meio termo, não vi meninas em cena, assisti forças da natureza, cada uma delas mastigou o palco com o próprio sexo, as vozes, suas vozes me atormentarão a cada leitura de "Gota D'água" ou "Medéia", vontade de gritar um obrigado até o passado, para Chico e Eurípedes. Estou para engolir o que vi, mas acho que a peça não foi feita para ser digerida, cheia do inconsciente coletivo e cheia de jogos e sombras. Sai de lá repensando até minha relação com algumas pessoas, acho que não agüento mais gente que não se dedica e gente que não arranca um dente pelo teatro, ou você morre, ou você vive e é isso aí, seja lá como for...

domingo, 17 de outubro de 2010

A curva do aço

A criação das coisas sempre me pareceu muito aberta, solta e solúvel, sempre tive uma boa relação com a criação das coisas, as coisas que acontecem no cérebro sempre tiveram o peso de um sentimento, já as coisas do corpo... Eram feitas de aço antigo e não envergado. Sempre matei idéias boas com o corpo duro e preocupado, hoje aprendi que o corpo é duro e preocupado em todas as primeiras vezes, e esse é o erro das escolas de teatro, tudo ali é a primeira e a última vez, não existe o tempo de maturação da idéia na carne, não existe a fixação das partituras através da leveza do fazer, tudo é imediato demais. E hoje, fazendo Roberto Zucco, me percebi fazendo minhas marcações de sempre, braço aqui, braço ali, mas hoje eu senti que repeti o mesmo gesto dos ensaios, o exato e mesmo gesto. A marcação foi de aço, mas a execução foi algodão. O corpo pode se repetir, mas a mente nunca, e isso é fundamental, é a diferença entre mover sua personagem pensando em batatas, ou mover sua personagem pensando no conflito, no redor e em seu motor, a propulsão da personagem mora na repetição do corpo dominado pela mente, ações corporais que te evocam a personagem, ações mentais que apóiam seus movimentos na credibilidade, ações mentais que creditam os gestos mais tresloucados, e hoje eles aconteceram pelos olhos da minha mãe e pelos olhos do Zucco, aconteceram pelo simples fato de que não pensei neles, o movimento pode ser antigo, mas o pensamento precisa ser novo. Um Hamlet dançando tango pode ser lindo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Texto I

Texto que fará parte do programa da minha primeira direção.

A solidão dos homens vem do berço, do pai que lhe rouba a mãe, do colega de sala que lhe rouba a professora. Eu falo da minha solidão. De qualquer forma este é um texto importante para mim, é resultado de uma fase que me tirou a fé em muitas coisas, do amor, da vida e das longas e míticas voltas por cima que a gente cresce acreditando que se pode dar após um tombo. Quando senti que não parava mais de cair, quase sem pensar e a partir de uma frase, desenvolvi todo o texto em poucos dias e foi assim que as coisas foram amontoando-se na tela do computador, tinha acabado de ler “O Anjo Pornográfico” e a partir dessa estética, dei voz ao meu sentimento de imensa devastação e desesperança não só quanto ao “amor”, mas também quanto ao ser humano como instituição e abrigo. Num momento onde havia parado o teatro e repensava minha relação com a arte e com o mundo, a catarse curou certas ranhuras, mas o teatro re-arromba essas feridas a cada ensaio e essa é a melhor forma de cura, acostumar-se a dor implacável e aproveitar essa solidão para transformar tudo isso em poesia para um novo teatro.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

o deslumbramento da exclamação e da resposta.

E na cama ela se vira e diz: Na cama com um modelo... Quem diria! Ele responde assustado, achando que disse algo fora do contexto, no meio da resposta pensa se é ou se será - Eu sou ator. E ela artista que é (como todo ignorante pretende ser): "Tanto faz" ...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

antes do ensaio de quarta-feira.

Buscar a relativa perfeição da comunicabilidade através das ações mais distorcidas, enxergar o expressionismo como a vida através de uma lupa, aumentar o traço comum, minimizar a ação-resposta, criar coreografias a partir dos movimentos comuns. Mecanizar o natural, juntar a natureza ao maquinário, ao sem vida, ao impossível que é possível num sonho, reorganizar a realidade através da lupa dos sonhos. Convencer, sempre convencer. Convencer o raciocínio lógico e convencê-lo através de ritmos, mudar a força, mudar a energia e o tonos para logo em seguida expelir uma ação impensável e assim tornar o espectador atento, envolvido e a mercê da epifania, abaixar as defesas morais, mentais e lógicas, para só então cravar a dramaturgia.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Minha prosa sem fim.

Escrevo "isso" as vezes, abro e escrevo mais um pouco, não tem enredo, fim, começo, comprometimento, eu só escrevo. Como "Bóris - O Vermelho" de Jorge Amado, não é para acabar, é para ir criando-se, é para esvaziar-me:

Nas janelas úmidas de cobre velho, o amarelo torturado do Sol poente mergulha no fundo do horizonte. Em equilíbrio os velhos servem o pão fermentado, e as velhas amassam o milho e o fundem ao óleo. Os animais arranham a terra batida permeiam e rodeiam o circundar da mesa, a mesa de madeira carnaúba enterrasse na tradição do almoço, o som “gaitoso” dos animais roucos acomoda o canto agudo dos pássaros azuis, eles preparam a revoada ao tilintar do sino velho e saudoso. Nesse tempo onde a astrologia é regra e as fases da lua são leis, as casas mal dependuradas no alto dos morros, sobrevivem com o tênue equilíbrio do barro com a chuva e as casas agradecem aos gentis insetos que não as sucumbem. Os medos e as falas lembram um português espanholado, as mulheres carregam em si e nos seios um peso grego um ar de tragédia, as roupas costuradas num amarelo arrependido pelo branco, parecem sempre secas e empoeiradas, o mar faz o som das hélices não inventadas e esse som é o primeiro passo para a invenção do avião, foi o misturar da espuma do mar no áspero do recife recém formado que inspirou o piloto. As mulheres desse tempo não conheciam a cor da porra, ela que sempre era disparada internamente, preservava-se no mistério do útero. Laranjas obesas oscilando e ameaçando explodir em suco, o pombo igualmente obeso, voando pesadamente pelo céu róseo, a vida obesa da natureza intocada se mistura ao bege esfarelado que prende nos sapatos também não inventados. Era de céu exageradamente estrelado e verdadeiramente representativo, onde as constelações eram demarcadas como as sobrancelhas do ser humano bonito, tempo onde os parentescos eram todos de primeiro grau, filhos pais dos netos e irmãs mães dos primos. O matuto puxou a virgem de lado e perguntou – Não quer conhecer a força que move o mundo?

domingo, 3 de outubro de 2010

Documentando do cansaço

Ônibus furioso, noite terminada e pessoas cansadas. O cara feio que dorme nos próprios joelhos. A menina gordinha que escuta mp3. O cobrador que acha que é meu amigo e o motorista que me cumprimenta com o olhar, sempre igual, sempre igual. A diferença é que eu geralmente me enfio em algum livro, mas hoje, eu abri o volume, olhei, encarei o ponto onde parei e disse pra mim: Não, hoje não. Não tava com vontade de ler, virei pro lado e fiquei pensando na vida... E só.