domingo, 17 de outubro de 2010

A curva do aço

A criação das coisas sempre me pareceu muito aberta, solta e solúvel, sempre tive uma boa relação com a criação das coisas, as coisas que acontecem no cérebro sempre tiveram o peso de um sentimento, já as coisas do corpo... Eram feitas de aço antigo e não envergado. Sempre matei idéias boas com o corpo duro e preocupado, hoje aprendi que o corpo é duro e preocupado em todas as primeiras vezes, e esse é o erro das escolas de teatro, tudo ali é a primeira e a última vez, não existe o tempo de maturação da idéia na carne, não existe a fixação das partituras através da leveza do fazer, tudo é imediato demais. E hoje, fazendo Roberto Zucco, me percebi fazendo minhas marcações de sempre, braço aqui, braço ali, mas hoje eu senti que repeti o mesmo gesto dos ensaios, o exato e mesmo gesto. A marcação foi de aço, mas a execução foi algodão. O corpo pode se repetir, mas a mente nunca, e isso é fundamental, é a diferença entre mover sua personagem pensando em batatas, ou mover sua personagem pensando no conflito, no redor e em seu motor, a propulsão da personagem mora na repetição do corpo dominado pela mente, ações corporais que te evocam a personagem, ações mentais que apóiam seus movimentos na credibilidade, ações mentais que creditam os gestos mais tresloucados, e hoje eles aconteceram pelos olhos da minha mãe e pelos olhos do Zucco, aconteceram pelo simples fato de que não pensei neles, o movimento pode ser antigo, mas o pensamento precisa ser novo. Um Hamlet dançando tango pode ser lindo.

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