terça-feira, 29 de maio de 2012

As escolhas e os caminhos da natureza solucionaram minha cabeça. A areia se organizando e o prisma da chuva, eclipsando raios de Sol. O luto do inverno empurrando a iluminação da aurora e o vento correndo por cima do mundo. Diante da epifania as pálpebras se desdobram e a luz encara minha pupilas. Meu nariz a uma distância que eu pude sentir o cheiro dos meus filhos, e eles, os filhos, se olhavam profundamente. Do ouvido de ambos escapava amor pelos ouvidos. A lâmpada iluminava e não só, havia nela um desejo de ourives, como um ouro de vidro. Meus filhos sob o céu de concreto da nossa casa. Diante das carnes agitadas, sadias e felizes da minha prole e das carnes amigas e amorosas da mulher que me acompanha pela vida, diante deste amor em observação, deste amor sincero e imortal, o meu coração se iluminou e constatei que jamais seria tão feliz quanto naquele instante. Aquele dia escolhido pela vida e a vida daquela linda mulher que eu fiz mãe. Eu fiz filhos naquele ser, e aqueles seres que se amam e brincam me fizeram pai. Eu jamais seria tão feliz quanto agora, tão homem e realização. Naquele instante morte e vida se equipararam como partes iguais de um destino e eu aceitaria qualquer final, fui imortal como o vampiro, um vampiro do céu, imortal com sua família. Vou falar de um amor com louças para se lavar no mar... Um gole de amor. Amor sem louças sujas. Uma vida que quis distância das impressoras sem tinta. Amor de um lugar asfaltado a pouco (vivíamos este amor empreiteiro), de longe e de perto, etéreo. Fizemos refeições inteiras um nas coxas do outro, filés inteiros e a faca parando na pele com cuidado. Cuidar de um amor dá fome. Um amor que desequilibrou a distância e mediu a palmos os toráxes dos envolvidos - Nesta frase eu esquentei o ventre dela a sopro. Amores em queda livre. Um amor de beleza e morte de buquês, um sentimento correio por cima dos muros altos. Uma fase onde a expectativa da roupa era o chão e o chão também era nosso limite, eu cavei buracos com ela. Quisemos morar no centro da Terra levando só a roupa do corpo e o ouro dos brincos. Ela chorava quando examinava meu corpo, me olhava emocionada e dizia pasma – Seu corpo é limpo, sem tatuagens. Éramos bonitos de emocionar cavalos e uma égua chorou em um dia que brigamos na fazenda - Era um amor pecuário também. Era uma paixão de lamber o sangue um do outro. De completar frases e de falar da eternidade, de repetir piadas. Uma vida de relâmpagos. Vivíamos uma vida para colecionar os dias e colocar as horas na prateleira, gastávamos um terço do dia fazendo as nossas próprias comidas, massas sofisticadas, molhos demorados, horas, dias longos ao lado dela. Eu gosto que ela goste que eu goste de gostar do que ela gosta. Nós vivíamos uma vida de acordar com o tempo e de conversar com o sono de igual para igual, fomos senhores de todas as sensações daquele tempo, durante anos, ou algumas horas, na verdade o tempo nunca foi importante. Passamos muito tempo longe do estado e era recorrente que nos dias de votação perdêssemos a hora no banho e já atrasados resolvêssemos rolar na cama. Ficávamos sabendo dos novos presidentes com a displicência de quem escreveu a história do país fazendo amor– Neste caso era um amor político também. Irresponsável e anarquista. Isso te ajuda a calcular o abismo? Pensei que do alto de algum lugar alguém me viu chegar como ferido de guerra. Caminhei dois passos como se fossem duas jornadas míticas de redenção, dois passos tão descoordenados que se dados em algum combate poderiam facilmente ser reconhecidos com os passos de um ferido por bomba ou atingido por estilhaço. Eram os passos dele que se encontra com ela. Meus passos diante da luz do Sol que eu mesmo acendi.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Brasil - Lugar onde é crime não aceitar que o criminalizem. Ordem e Protesto. Brasil - Lugar onde? Não sei. Existem tantas camadas e tempos da escrotagem brasileira que é difícil tomar partido ou expurgar opinião, um fato diverge do outro, um dia justifica uma emenda e cada crime um partido novo. Mas, por fim, Brasil - Um lugar onde aquela velha ideia de que "política é uma coisa chata" deu muito, mas muito certo. O lugar onde até intelectual cansou de ler jornal. É tudo tão caótico que não se pode nem imaginar um líder para a bandalheiragem que se instalou em todos os meios, um monte de acidentes que convergiram ao caos na comunicação, na política e na vida por consequência. Antes fosse uma calhordagem gerenciada, pelo menos alguém teria culpa. O problema se solidifica quando a culpa é de toda uma classe, uma fatia da população que acredita no Deus do Ego. Brasil - Eu. Brasil - Lugar onde não usa o encontro do artigo masculino com a palavra OUTRO para exprimir qualquer noção de humanidade, sociabilidade, compaixão, ou mesmo com a noção de que não se esta sozinho no mundo com a sua conta corrente.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sobre direção, teatro e vassouras.

O diretor permite que as imagens aconteçam, talvez seja uma das parábolas de uma boa direção a arte de permitir que as coisas venham do sensível e ganhem qualquer concretude no palco. O que é curioso já que o palco também é um cenário do abstrato na maioria das vezes. Ontem ao término do espetáculo a moça da limpeza aplaudiu, resolveu assistir a peça e parecia encantada com as coisas, porém, ao término da peça uma chave social virou, pois de espectadora ela voltou a ser funcionária, funcional, levantou-se e colocou-se a varrer o mesmo palco onde ela havia enxergado (esperamos) um naufrágio, um albergue, Roma, o mar e enfim, uma sequência de imaterialidades que ao término de 50 minutos puderam ser varridas por uma espectadora em especial, Ela nos deu uma aula de: Concretude.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

... eis a confusão, o que é abstrato neste papo todo é o fim das coisas, já o tão injustiçado tempo, este sim, é concreto, pois se firma em um bloco de sensações que percorre metade das nossas vidas, a outra metade é justamente a falta dele. Portanto, o fim, um bem que pode escapar aos dedos humanos, eis a grande maldição! Não ir de encontro ao próprio final, por pura falta de tempo. Abstrações a parte, um Deus de metralhadora olha por ti e dispara suas próprias economias em corações despreparados, você não esperava morrer agora, mas, aceite, será melhor, morreu. Afinal, de concretude o inferno ( ou a melancolia coletiva) está cheio.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Lorca -

Piazzoleando Perdi-me muitas vezes pelo mar Com o ouvido cheio de flores recem-cortadas Com a lingua, cheia de amor e de agonia Muitas vezes me perdi pelo mar Como me perco no coração de alguns meninos Porque as rosas buscam em frente Uma dura paisagem de osso E as mão do homem não tem mais sentido Que imitar as raízes sobre a terra Como me perco no coração de alguns meninos Perdi-me muitas vezes pelo mar Ignorante da água Vou buscando uma morte de luz que me consuma

terça-feira, 1 de maio de 2012

Desfavor parte I O logo da Google no dia do trabalho, um sujeito levantando uma armação de concreto. Por essas e outras que minha mãe jura que eu não trabalho ...