segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Coluna


Conversando com uma amiga que também escreve, tive (roubei) a idéia de escrever sobre alguns conhecidos, algo do tipo "fulano " segundo minha percepção, cada um é cada um e cada um é alguma coisa aos olhos do outro, acho bonito isso, ser vários em várias pessoas, chega, começo agora :


.Ela tem olhos duros e escuros, rosto duro de gente tradicional, cabelo que de cabeça eu não lembro, mas que quando a encontro, fico revisando todas as cores que conheço, termino sempre no "castanho meio preto, quase loiro". Sempre achei que tivesse uns trinta e poucos. Tem vinte e poucos. Ela tem alguma coisa antiga em si, não sei se o olhar, ou o jeito como respira, não preenche o peito, respira curto e sorri quando solta o ar, tem um caminho estranho na arte, um caminho que até agora eu só enxerguei nela, um caminho obrigatório. Tenho a impressão de que ela se sente obrigada a ser boa, e quando triunfa, ai sim ela tem vinte e poucos, me abraça no pescoço, me beija e fica numas exclamações vagas "aii " ... "nossa!"... "você!"

Ela é bonita de alma e por mais que eu marque de encontrá-la, sempre tenho a impressão de que estamos ali por acaso, por mais que ela pareça solta e livre ela não é por acaso, ela faz sentido, um sentido muito particular que eu respeito.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pensamento febrio :

É imperdoável que uma grávida, lactante, durma nua numa floresta, o risco de algum animal mamá-la é enorme.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Poesia livre

Amor só é amor quando a gente tem vontade de ficar olhando de perto a pele do ser amado. Vontade de reparar cada cruzamento, cada pêlo por nascer. Vontade de estiletar as coxas pra abrir lentamente a carne e conhecer inteira a mulher da tua vida. Percorrer roçando os cílios no pêlos e os pêlos no nariz, e o nariz no cheiro. Percorrer e respeitar cada curva. Arrastar a fêmea ao sol e no sol permitir que lhe brote a umidade, permitir que a pele beba da própria pele, recriar o conceito de sede no sexo ao sol e depois, depois do depois, fazer carinhos “infazíveis”, cantar ainda que de voz arfada. E depois do depois, perpetuar o teto nas camadas da lembrança, ficar de olhos abertos, olhos quentes e aquosos, espelhando no branco do teto e no pele da pele. Romper a ancestralidade do sexo.

sábado, 21 de agosto de 2010

Atrás do amor.

Ontem em Roberto Zucco, como de costume procurei o lindo da noite, procurei a beleza no escuro, encontrei. Tinha um casal na última fileira, que não consegui reparar se era um rapaz e uma jovem ou um jovem e um rapaz, o que importa é que eram carinhosos, durante toda a apresentação eu os percebi atentos, porém, faziam carinhos durante cada cena, mão no cabelo, mão na orelha, cabeça no ombro, cabeça com cabeça, coisas de namorados em carinhos secretos , mais que em um gesto automático eles declaravam-se calados. Na última fileira de uma das arquibancadas só estavam os dois em uma ponta, acho que se isolaram por querer, ou talvez tenham dado sorte, a sorte dos amantes no teatro, a sorte da solidão acompanhada e pública. Fui embora com essa imagem na cabeça, as sombras crescendo braços na contraluz e afagando-se mutuamente.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Os olhos tristes na janela

Em algum lugar da minha memória mora um casal triste que anda se amparando nos passeios, um casal que costuma inclinar a cabeça em qualquer ombro. Lembro deles entre suspiros, embaixo de uma luz azul-madrugada eu sempre lembro deles, é um tipo de amor que nunca tive, o casal cansado no ônibus ou o casal cansado em alguma fila de banco. A gente que vive com esse amor triste é engraçada, esses dias eu vi um casal assim, eles estavam morrendo ali pela Praça Roosevelt, engraçado que eles são felizes na sua tristeza misturada, apesar dos olhos baixos de ambos, sinto que as pessoas ao redor sentem inveja... Eu já quis sentir... Lembro dos tipos urbanos que hoje me fazem falta e que agora sou obrigado a procurar eu mesmo... Os tipos da Praça carregam em si um olhar de outra existência, de outra freqüência.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sombras


Durante as apresentações meu coração perde o sentido, gosto de andar pelos bastidores, pelos camarins, pelos corredores, gosto de ver os narizes na contra luz, os cabelos amassados da peruca recém tirada, sei que isso deixa alguns companheiros inquietos, mas não posso parar. Acho que tenho a calma, e a segurança necessária para andar em silêncio e focar o olhar nessas pequenas coisas, enquanto alguns atores odeiam ficar no camarim (já que estando no camarim não estão no palco) eu adoro, existem duas experiências numa noite de peça, atuar, encarar o público, vestido de palavras, e voar pelo camarim, percebendo os seios nus das atrizes meio prontas e sentindo o cheiro de maquiagem recém passada. Amizades que surgem no silêncio do camarim.



. Foto incrível de Marcelo Ximenez com os amigos Dyl Pires e Renan Pena nos bastidores de Roberto Zucco.

sábado, 7 de agosto de 2010

Na Caio Prado

" Cala essa boca ! Cala essa boca ! Cala essa maldita boca pelo menos uma vez na vida! Me deixa falar ! Me deixar falar ! "


. "Essa maldita boca"... Estranho como as pessoas bravas saem imitando inconscientemente os filmecos dublados...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Folha de São Paulo, 28 de julho de 2010

Na coluna da Mônica Bergamo

SOBRE RODAS

"Roberto Zucco", novo espetáculo da companhia de teatro Os Satyros, que estreia no dia 13 de agosto, promete movimentar a plateia. O piso onde as poltronas estão instaladas vai girar, permitindo que o público veja a peça de vários ângulos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Feito o "Merda" do Teatro.

Estou a 10 dias de uma estréia que promete muito. Estou feliz e seguro, confio no elenco, confio em todos ali, sei que será uma grande peça, ando bem com as mulheres e com minha família, vislumbro até pagar minhas "próprias contas". Sinto que melhoro minha escrita nesses tempos e até meu cabelo ta legal. Como a tradição de não agradecer o "Merda" que o colega deseja, eu acho que não vou contar para ninguém e nem vou sair sorrindo, não quero que os deuses tenham inveja do meu estado de espírito. Engraçado pensar que estou vivendo o que achei que viveria daqui a muitos, muitos anos... Descobri dois novos artistas que estão me lotando a alma, e as viagens, com os melhores pensamentos, Federico Garcia Lorca e Gabriel García Márquez, e é louco isso, eu lembrei-me que havia esquecido como era bom viajar com autor novo, como é bom e como me faz bem. Tenho conversado mais com meus cachorros, tenho saído mais com meus amigos e acho que isso que tem me feito um enorme bem, parou de fazer birra, cansei de juntar as sobrancelhas, a Praça Roosevelt cura, apesar de me trazer a lembrança do eterno mestre. Essa peça é dele.