quarta-feira, 21 de novembro de 2012

3 partes de um semi-poema que partiu

I As folhas, nunca regadas, serão sempre surpresas prontas; com sua feminina virilidade verde apresentam na secura da sede; o aperto da vida inteira / II Nas suas correntes sanguíneas de clorofila lenta / são plantadas na própria sobrevivência / e observam o vazio vital dos outros / dos que dispõem da infinita e castradora hidratação. III As folhas sábias / desprezam a água alérgica / que banha os que nunca vigiaram a própria sede.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Um Batman Inglês

O Batman de Nolan. A reformulação de uma ideia, ou personagem, sempre é um busca etimológica, uma intensa procura do sentido das coisas e das palavras que as significam; o cavaleiro surge resignificado também, o bem e o errado, o certo e o mal, idem. Um Batman “camisa do Che Guevara” nos colégios públicos, assim é apresentado o herói, um respiro idológico para o mundo cansado. Nolan contribui com uma ácida visão política para um Batman que passa na categoria dos ferozes críticos de seus sistemas, como o Rambo em 70 e até o brasileiríssimo indignado Capitão Meirelles Nascimento. Mais do que crítica – Consciência. A clareza de que todo mal surge em suma como resultado de políticas erradas, é sim um grande grito, ultrapassa a revolução de mesa e cai na luz da existência, de nós meros indignados mortais, e a força com que os temas se mostram não propõe uma mudança de punho e sim uma conscientização de nós, humanos fármacos felizes. Como um fármaco triste, um Bruce ideologicamente condenado a uma bengala que não o sustenta, Bruce Wayne – a vontade do mundo contemporâneo é parar. Nolan acrescenta ao herói uma qualidade, até agora, pouco explorada, o herói intelectual, político, centrado, quase esquerdista. Bruce Wayne, sendo quem é, tem sim um forte caráter político, vestir a máscara sempre foi sua contrapartida social, e Nolan, encontrou nesta parte escura da personagem a grande potência do roteiro, a forma como o Cidadão Wayne ultrapassa o quase onipotente Batman, é uma aula de direção e clareza social. O Batman que apanha é o voto que não vale. O honesto que não se elege, o remédio que não cura. O meio do filme corresponde ao mundo de agora, apanhando após um longo exílio de omissão, uma humanidade que grita contra o vilão e que será jogada ao buraco. Um Batman imensamente perspectivado é o brilho da produção, uma perspectiva adulta do homem que pula prédios trás ao homem moderno uma nova identidade, a potência tecnológica pode ser mais que um noticiário que comenta, a tecnologia intercede e transforma, um radar aos passos, a tecnologia pode fazer de qualquer um o grande vigilante que a justiça clama, este Batman que se exila por 8 anos, esse Batman que surge em missões específicas tira todo o caráter Cavaleiro Andante e estimula um Batman, de novo, mais político, que escolhe os teus novos alvos a partir da CPI do dia. (Nas ultimas cenas esperei encontrar o próprio Cachoeira amarrado entre os vilões) Nolan – Dialético Um ato ao mal! Nolan agora abre espaço na tragédia do Batman e dedica um ato inteiro aos motivos e as razões do mal, um mundo onde o bem e o mal querem fazer o bem, o conflito das perspectivas e métodos são dosados com alteridade. A faca mainstream – É sim um bom Hollywood, porém executado por ingleses, tem a grandeza da produção mas equilibra um sutil ar de superioridade ( positivo ) nas cenas de diálogo, até o diálogo é usado como efeito especial, Nolan costura no mínimo 6 tramas ao redor do Cavaleiro das Trevas, que efetivamente surge em no máximo 30 minutos do filme que dura (curtas) 3 horas.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Lágrimas do ano 2003

Deus precisa ser orientado para governar melhor. Ser divino é mesmo um cargo político, os destinos reforçam isso. Um sujeito, ainda que o sujeito seja o universo, não deveria criar órgãos paradoxais, o mesmo coração que ama não haveria de poder odiar, é contra a lógica de todas as outras criações, se pensarmos que na lógica do instinto o que chove não é a mesma força que seca – neste caso o homem vive como exceção diante de todas as outras coisas. Como andar por aí, caleidoscópio nos olhos e a cidade transformada em uma ilustração de todos os sentimentos do mundo. Cumprimentar guardar que jamais reencontraremos. Matemática líquida em tubos de ensaio. Serotonina 600 ml, mais caro que coca-cola, com certeza.

domingo, 1 de julho de 2012

Em troca ela o amava como tudo.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

No metrô o feio colado à feia, eles perdidos em um pacto de se agarrem para sempre. Sabem que o resto do mundo não pretende o amor deles, são feios e precisam perpetuar a própria solidão um no outro, unidos por laços estéticos que, no mundo, os definem como afastados, isolados, outsiders, excluídos. O feio quando encontra a feia precisa ser pra sempre. E no metrô, com o passar do mundo os dois gritam com seus traços mal pensados pela natureza - Nós nos encontramos, e vocês? E riem aos beijos. Um monte de gente bonita voltando sozinha pra casa, um monte de gente linda querendo andar por aí, querendo ser vista, - E vocês? Os feios congelados, apegados à primeira conquista da vida.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Viagem. As pessoas que retornam, no geral dormem. Como se no sono mergulhassem de volta e selassem outra vez a própria essência com as raízes da terra, o re-acordo com a pátria, o sono da volta. Quem regressa sempre dorme. Não é cansaço da viagem, é saudade da paz do sono do ar de onde nasceu. Duas lâmpadas equilibravam o quarto, uma em cada extremo recortando o escuro. Ele observava o sono dela, recortando o próprio sono dele. Existe certa aflição em observar a imobilidade de quem se ama. Um sabor de admirar e um medo de ver ali, no sono profundo, a reprodução da morte.

domingo, 3 de junho de 2012

aqueles que postam no blog.

Existe frieza na casa vazia. Como se os pais estivessem mortos no quarto e os cães nus dormindo em pedra sabão. Você esperando assistir cores. O sozinho não tem coragem de acender as luzes e iluminar os móveis. Deus fica constrangido diante do sujeito que se permite e se acaricia na própria tristeza. E os cães nus dormindo em pedra sabão. Esqueci a alma no teatro. Deixei o casaco no. Fui e voltei sem casaco... A verdade é essa. Imaginei o frio que as mangueiras sentem quando são obrigadas a lavar os quintais nos dias de inverno.
Meritocracia (do latim meritu, mérito e cracia, poder)[1] é um sistema de governo ou outra organização que considera o mérito (aptidão) a razão para se atingir determinada posição. Em sentido mais amplo, pode ser considerada uma ideologia. As posições hierárquicas são conquistadas, em tese, com base no merecimento e entre os valores associados estão educação, moral, aptidão específica para determinada atividade. Em alguns casos, constitui-se em uma forma ou método de seleção. Wiki

terça-feira, 29 de maio de 2012

As escolhas e os caminhos da natureza solucionaram minha cabeça. A areia se organizando e o prisma da chuva, eclipsando raios de Sol. O luto do inverno empurrando a iluminação da aurora e o vento correndo por cima do mundo. Diante da epifania as pálpebras se desdobram e a luz encara minha pupilas. Meu nariz a uma distância que eu pude sentir o cheiro dos meus filhos, e eles, os filhos, se olhavam profundamente. Do ouvido de ambos escapava amor pelos ouvidos. A lâmpada iluminava e não só, havia nela um desejo de ourives, como um ouro de vidro. Meus filhos sob o céu de concreto da nossa casa. Diante das carnes agitadas, sadias e felizes da minha prole e das carnes amigas e amorosas da mulher que me acompanha pela vida, diante deste amor em observação, deste amor sincero e imortal, o meu coração se iluminou e constatei que jamais seria tão feliz quanto naquele instante. Aquele dia escolhido pela vida e a vida daquela linda mulher que eu fiz mãe. Eu fiz filhos naquele ser, e aqueles seres que se amam e brincam me fizeram pai. Eu jamais seria tão feliz quanto agora, tão homem e realização. Naquele instante morte e vida se equipararam como partes iguais de um destino e eu aceitaria qualquer final, fui imortal como o vampiro, um vampiro do céu, imortal com sua família. Vou falar de um amor com louças para se lavar no mar... Um gole de amor. Amor sem louças sujas. Uma vida que quis distância das impressoras sem tinta. Amor de um lugar asfaltado a pouco (vivíamos este amor empreiteiro), de longe e de perto, etéreo. Fizemos refeições inteiras um nas coxas do outro, filés inteiros e a faca parando na pele com cuidado. Cuidar de um amor dá fome. Um amor que desequilibrou a distância e mediu a palmos os toráxes dos envolvidos - Nesta frase eu esquentei o ventre dela a sopro. Amores em queda livre. Um amor de beleza e morte de buquês, um sentimento correio por cima dos muros altos. Uma fase onde a expectativa da roupa era o chão e o chão também era nosso limite, eu cavei buracos com ela. Quisemos morar no centro da Terra levando só a roupa do corpo e o ouro dos brincos. Ela chorava quando examinava meu corpo, me olhava emocionada e dizia pasma – Seu corpo é limpo, sem tatuagens. Éramos bonitos de emocionar cavalos e uma égua chorou em um dia que brigamos na fazenda - Era um amor pecuário também. Era uma paixão de lamber o sangue um do outro. De completar frases e de falar da eternidade, de repetir piadas. Uma vida de relâmpagos. Vivíamos uma vida para colecionar os dias e colocar as horas na prateleira, gastávamos um terço do dia fazendo as nossas próprias comidas, massas sofisticadas, molhos demorados, horas, dias longos ao lado dela. Eu gosto que ela goste que eu goste de gostar do que ela gosta. Nós vivíamos uma vida de acordar com o tempo e de conversar com o sono de igual para igual, fomos senhores de todas as sensações daquele tempo, durante anos, ou algumas horas, na verdade o tempo nunca foi importante. Passamos muito tempo longe do estado e era recorrente que nos dias de votação perdêssemos a hora no banho e já atrasados resolvêssemos rolar na cama. Ficávamos sabendo dos novos presidentes com a displicência de quem escreveu a história do país fazendo amor– Neste caso era um amor político também. Irresponsável e anarquista. Isso te ajuda a calcular o abismo? Pensei que do alto de algum lugar alguém me viu chegar como ferido de guerra. Caminhei dois passos como se fossem duas jornadas míticas de redenção, dois passos tão descoordenados que se dados em algum combate poderiam facilmente ser reconhecidos com os passos de um ferido por bomba ou atingido por estilhaço. Eram os passos dele que se encontra com ela. Meus passos diante da luz do Sol que eu mesmo acendi.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Brasil - Lugar onde é crime não aceitar que o criminalizem. Ordem e Protesto. Brasil - Lugar onde? Não sei. Existem tantas camadas e tempos da escrotagem brasileira que é difícil tomar partido ou expurgar opinião, um fato diverge do outro, um dia justifica uma emenda e cada crime um partido novo. Mas, por fim, Brasil - Um lugar onde aquela velha ideia de que "política é uma coisa chata" deu muito, mas muito certo. O lugar onde até intelectual cansou de ler jornal. É tudo tão caótico que não se pode nem imaginar um líder para a bandalheiragem que se instalou em todos os meios, um monte de acidentes que convergiram ao caos na comunicação, na política e na vida por consequência. Antes fosse uma calhordagem gerenciada, pelo menos alguém teria culpa. O problema se solidifica quando a culpa é de toda uma classe, uma fatia da população que acredita no Deus do Ego. Brasil - Eu. Brasil - Lugar onde não usa o encontro do artigo masculino com a palavra OUTRO para exprimir qualquer noção de humanidade, sociabilidade, compaixão, ou mesmo com a noção de que não se esta sozinho no mundo com a sua conta corrente.