quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Luz no poste apagado.

Então a menina nova me contou que volta do colégio de noite, e que do lado da casa dela, tem um bar. E eu que nem estudo mais lá... Ainda devo ter o uniforme guardado em algum lugar, pensei que se ela sempre precisa voltar acompanhada para satisfazer o medo da mãe, poderia eu, algum dia me fantasiar de colega de sala só para escoltá-la, vê-la e visitá-la na longa volta pra casa noite adentro, e talvez eu ainda dissesse para a mãe, que talvez estivesse junto ao portão batendo aquela continência que a gente bate pra enxergar melhor: "sou da sala dela, é, moro aqui do lado também...”, ela chamou tudo isso de confuso, eu chamei de "vida".

- Você é doido... De noite a gente não usa uniforme.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Mania de ser enganado (TETRO)

Que mania mais chata essa que o público tem de querer ser enganado, assisti Tetro e adorei tantas coisas! Desde a proposta (ao meu ver PURAMENTE estética) até o roteiro subversivo e simples no fazer. Adorei a autenticidade da coisa toda. Li algumas críticas que citam como "constrangedor" a coisa mais bela do filme, os efeitos ruins. São tantos efeitos ruins, a mulher que voa parecendo uma gota de tinta, a água que parece desenhada... O que para mim foi um ponto muito positivo, pra quê fazer com perfeição? Pra enganar melhor? Eu vi o mar invadindo o palco da mesma forma, ele estava lá, não estava bom pro Spielberg, mas pra quê gastar milhões num efeito que um balde com água resolve? A mágica do teatro foi lindamente arrastada para o cinema: CONVENÇÃO.Tetro é incrível e me mudou mais um pouquinho. Aliás, bonito ver o cinema espanhol contaminando o clássico americano. A estética Almodovar bastante concreta e limpa. Não sei se foi pira minha, mas percebi um Coppola hiper maduro em cada frame do filme. O Marlon Brando de Tetro é com certeza o próprio Coppola.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Pensei :

E quando os pais de uma pessoa bonita, são feios? Pra mim é como se a pessoa deixasse, um pouco, de ser bonita. É como se a pessoa fosse bonita na sorte, e assim não tem a menor graça. É que nem tirar 10, colando, no chute, ou de qualquer outra forma aleatória.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Hoje no ônibus.

Ancelmo! Eu te amo cara, Ancelmo, Ancelmo? Seu pai sem comentários Ancelmo, a gente já dormiu junto, ja dormimo na mesma cama! Você seus irmão, meus primo, na mesma cama Ancelmo ! Você deve tar pensando que o Ricardo é mó maluco de ligar um dia antes, mas eu sou sentimental, emotivo, eu sou sentimental e emotivo Ancelmo! Meu coração quis pegar o telefone agora pra te ligar, tou no ônibus Ancelmo, perdi meu bilhte único, o cobrador deixou eu passar por baixo Ancelmo! Você sempre foi o cabeça , eu sentimental!. Foi a primeira vez Ancelmo, mas tamo junto e não quero ver uma amizade tão antiga se perder, se perder os laços Ancelmo, Ancelmo? Bom Natal Ancelmo! Feliz próspero ano novo, Ancelmo desculpa tar te ligando á cobrar viu Ancelmo? Mas você me conhece Ancelmo, eu sou um duro Ancelmo! Falou irmão, aquele abraço.



Só te liguei pra te deixar aquele abraço Ancelmo, tudo de bom pro seu pai sem comentários! Abração pros teus irmão viu Ancelmo? A gente dormia junto e eu não esqueço! Beijo, feliz próspero ano novo Ancelmo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Madeira, samambaia e minha antiga boxer sentada no quintal dos fundos.

O primeiro natal que me lembro eu deveria ter uns oito anos de idade, lembro que muita gente apareceu em casa, lembro que várias crianças apareceram, mães, pais, tios, primos, amigos, vizinhos, lembro da integração da coisa toda, todo mundo me deu presentes, minhas mãe cortou o peito do Chester pra mim e meu pai trouxe um caminhãozinho de madeira cheio de brinquedos na caçamba. Minha tia já era velhinha e meu tio ainda tinha barba preta. Aquele natal me marcou muito, cresci acreditando que o natal poderia ser sempre aquilo, não sei se eu cresci e tudo perdeu a graça, ou se todas aquelas pessoas cresceram junto comigo, o fato é que os natais da minha casa nunca mais foram como aquele primeiro da memória. Eu lembro que aquele natal foi o primeiro de várias experiências, primeira briga com alguém, por um boneco do Alien. Primeira vez que eu soube que existiam mulheres que gostavam de mulheres. Primeira vez que vi meu tio tocar piano, e por mais estranho que pareça, acho que foi o dia que eu soube que era filho do meu pai, não lembro da conversa, só lembro que ele sentou na beirada da porta e ficou falando algo comigo, lembro que no meio de todos os amigos, pessoas e vizinhos, ele parou pra falar comigo, eu com oito anos e meio banguela, eu que brincava de carrinho de madeira ao lado da samambaia... E até hoje quando chega o natal eu sinto que tem muita gente pra chegar, muita comida pra fazer e várias coisas pra sentir, me sinto atrasado quando percebo que a toalha de mesa será a mesma do natal passado e que a família será a mesma, eu o mesmo, meu pai o mesmo. Acho que o que mudou foi outra coisa, os amigos antigos daquele natal devem estar procurando outra família para passar a ceia, outra família rica como nós éramos naquele tempo.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

E as flores tristes na janela

Final do ano e as flores tristes na janela continuam tristes, apesar do Sol e apesar da paisagem da janela ter mudado um bocado. Conheci gênios, burros, meninas, mulheres, amigos e outros amigos. Não terminei meu romance, mas escrevi 2 peças que não imaginei que pudesse escrever, assim, sem planejar, ou sem sofrer alguma coisa, simplesmente vieram e fiquei feliz. Assim como veio o teste, depois o ensaio, depois a estréia, depois a estabilidade e por fim o APCA para confirmar a direção do barco. Sou novo em um projeto antigo e divido o palco com a memória de um mestre, isso também me fez fe(Liz). Dirigi, fui dirigido. Recebi o respeito de uma atriz incrível e a confiança de um ator maravilhoso, fui recebido com meu texto, meu olhar e meus métodos, foi bonito me ver errar. Resultei bem na promessa de um ano atrás, acho que me dei bem. Satyrianas e novos objetivos. Dolosas Coxas e novas idéias. Dei aulas que não sabia que poderia dar, dirigi uma peça que nunca imaginei que poderia dirigir, uma peça falando sobre coisas reais, sem poesia, sem falar do meu umbigo, dei voz para quem queria falar. Como já era de se esperar eu erro cada vez mais com as mulheres e por alguma lei das coisas estranhas, apenas as meninas mais puras, gentis e que não deveriam estar no mundo, se aproximam de mim, esse ano eu vi gente chorar e não pude fazer nada. Tomei um porre com meu irmão. Conheci uma paraguaia que traduz o que eu queria ser, sincera ao extremo, autêntica de uma forma tão pura, uma paraguaia que não aprendeu a mentir em português. Entrei num curso só pra conhecer gente, e fiz trabalhos só pra não ficar sozinho em casa. Conheci um método incrível e um resultado pulsante. Fiz um parceiro de estrada e vi meu túmulo no distante cemitério de elefantes que a vida nos reserva. Perdi 5 quilos. Planejo um ano novo sem meus pais e acho que isso é uma revolução burra e egoísta, mas também acho que é autêntica e necessária. Sou assistente de direção e sou feliz, sou ator e sou feliz. Vivi noites incríveis na falta do que fazer, mas ricas na poesia, no conhecer e nos olhos nos olhos. Queria escrever sobre cada minuto incrível do ano. Continuei amigo dos meus melhores amigos, coisa difícil se fazer quando a vida toma rumos tão diferentes, eu sou um artista e sofro algumas conseqüências por isso, mas de qualquer forma, as flores tristes na janela estão mais vivas, agora só me falta sair da janela e ir pra rua. Depois do melhor ano da minha vida, o que vem? Passei a máquina no cabelo. Um beijo, boa noite e se cuida viu?

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Duas coisas

Ato falho n° 1 . Quase disse para minha atriz "escrevi mais um verso" corrigi por "escrevi mais uma fala" ... E esse é o medo, eu escrevo teatro ou adapto poesia? Ou é teatro com poesia, ou poesia no teatro? Caminhos, crescer.

Segunda coisa da noite: Não tenho paciência para beijar na rua, acho pouco intimo... E eu odeio passar vontade.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Reflexo

Não há como dizer que a arte não é um reflexo, não só do ser, mas também do estado do ser. Quando dirijo tenho tendência ao minimalismo, ao pensado, ao não dito e a todas essas coisas que dialogam com meu universo, pequenos constrangimentos, grandes dilemas. A coisa é que agora eu tenho dirigido finais felizes, nas ultimas duas cenas que trabalhei me percebi querendo o melhor da personagem, sendo que em “As Dolosas Coxas” a minha maior busca foi pelo drama, pela dor, pelas "explosões de olhares" como um dia disse a Pri. Esses meus finais "felizes" eu acho que tem sido felizes só pra mim, na maioria das vezes é uma mão que pega outra, um olhar de "eu posso” ou um suspiro aliviado, são sutilmente felizes e quase imperceptíveis, acho que como o meu próprio “happy end”, sutilmente feliz... Isso é o que o espectador não vê, mas se contamina, e também se não for, tanto faz... Não crio o espectador meu sócio, gosto dele como comprador, comprador de algo que eu não vendo mesmo que exposto na vitrine, atrair e afogar, como fazem as sereias.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Meu jeito de viver :

A Lei

Composição: Raul Seixas

Todo homem tem direito
de pensar o que quiser
Todo homem tem direito
de amar a quem quiser
Todo homem tem direito
de viver como quiser
Todo homem tem direito
de morrer quando quiser

Direito de viver
viajar sem passarporte
Direito de pensar
de dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de amar,
Como e com quem ele quiser

A lei do forte
Essa é a nossa lei e a alegria do mundo
Faz o que tu queres há de ser tudo da lei
Fazes isso e nenhum outro dirá não
Pois não existe Deus se nao o homem
Todo o homem tem o direito de viver a não ser pela sua própria lei
Da maneira que ele quer viver
De trabalhar como quiser e quando quiser
De brincar como quiser
Todo homem tem direito de descansar como quiser
De morrer como quiser
O homem tem direito de amar como ele quiser
De beber o que ele quiser
De viver aonde quiser
De mover-se pela face do planeta livremente sem passaportes
Porque o planeta é dele, o planeta é nosso.
O homem tem direito de pensar o que ele quiser, de escrever o que ele quiser.
De desenhar, de pintar, de cantar, de compor o que ele quiser
Todo homem tem o direito de vestir-se da maneira que ele quiser
O homem tem o direito de amar como ele quiser, tomai vossa sede de amor, como quiseres e com quem quiseres
Há de ser tudo da lei
E o homem tem direito de matar todos aqueles que contrariarem a esses direitos
O amor é a lei, mas amor sob vontade
Os escravos servirão
Viva a sociedade alternativa
Viva Viva

Direito de viver, viajar sem passaporte
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de amar, como e com quem ele quiser

Meu jeito de fazer teatro:

Baioque

Composição: Chico Buarque

Quando eu canto, que se cuide quem não for meu irmão
O meu canto, punhalada, não conhece o perdão
Quando eu rio

Quando eu rio, rio seco como é seco o sertão
Meu sorriso é uma fenda escavada no chão
Quando eu choro

Quando eu choro é uma enchente surpreendendo o verão
É o inverno, de repente, inundando o sertão
Quando eu amo

Quando eu amo, eu devoro todo meu coração
Eu odeio, eu adoro, numa mesma oração, quando eu canto

Mamy, não quero seguir definhando sol a sol
Me leva daqui, eu quero partir requebrando rock'n roll

Nem quero saber como se dança o baião
Eu quero ligar, eu quero um lugar
Ao sol de Ipanema, cinema e televisão

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Noite

X: Eu acho que escrevo melhor do que vivo
      
J: É que escrever você escreve o que quiser, viver não.