quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Um Batman Inglês

O Batman de Nolan. A reformulação de uma ideia, ou personagem, sempre é um busca etimológica, uma intensa procura do sentido das coisas e das palavras que as significam; o cavaleiro surge resignificado também, o bem e o errado, o certo e o mal, idem. Um Batman “camisa do Che Guevara” nos colégios públicos, assim é apresentado o herói, um respiro idológico para o mundo cansado. Nolan contribui com uma ácida visão política para um Batman que passa na categoria dos ferozes críticos de seus sistemas, como o Rambo em 70 e até o brasileiríssimo indignado Capitão Meirelles Nascimento. Mais do que crítica – Consciência. A clareza de que todo mal surge em suma como resultado de políticas erradas, é sim um grande grito, ultrapassa a revolução de mesa e cai na luz da existência, de nós meros indignados mortais, e a força com que os temas se mostram não propõe uma mudança de punho e sim uma conscientização de nós, humanos fármacos felizes. Como um fármaco triste, um Bruce ideologicamente condenado a uma bengala que não o sustenta, Bruce Wayne – a vontade do mundo contemporâneo é parar. Nolan acrescenta ao herói uma qualidade, até agora, pouco explorada, o herói intelectual, político, centrado, quase esquerdista. Bruce Wayne, sendo quem é, tem sim um forte caráter político, vestir a máscara sempre foi sua contrapartida social, e Nolan, encontrou nesta parte escura da personagem a grande potência do roteiro, a forma como o Cidadão Wayne ultrapassa o quase onipotente Batman, é uma aula de direção e clareza social. O Batman que apanha é o voto que não vale. O honesto que não se elege, o remédio que não cura. O meio do filme corresponde ao mundo de agora, apanhando após um longo exílio de omissão, uma humanidade que grita contra o vilão e que será jogada ao buraco. Um Batman imensamente perspectivado é o brilho da produção, uma perspectiva adulta do homem que pula prédios trás ao homem moderno uma nova identidade, a potência tecnológica pode ser mais que um noticiário que comenta, a tecnologia intercede e transforma, um radar aos passos, a tecnologia pode fazer de qualquer um o grande vigilante que a justiça clama, este Batman que se exila por 8 anos, esse Batman que surge em missões específicas tira todo o caráter Cavaleiro Andante e estimula um Batman, de novo, mais político, que escolhe os teus novos alvos a partir da CPI do dia. (Nas ultimas cenas esperei encontrar o próprio Cachoeira amarrado entre os vilões) Nolan – Dialético Um ato ao mal! Nolan agora abre espaço na tragédia do Batman e dedica um ato inteiro aos motivos e as razões do mal, um mundo onde o bem e o mal querem fazer o bem, o conflito das perspectivas e métodos são dosados com alteridade. A faca mainstream – É sim um bom Hollywood, porém executado por ingleses, tem a grandeza da produção mas equilibra um sutil ar de superioridade ( positivo ) nas cenas de diálogo, até o diálogo é usado como efeito especial, Nolan costura no mínimo 6 tramas ao redor do Cavaleiro das Trevas, que efetivamente surge em no máximo 30 minutos do filme que dura (curtas) 3 horas.