quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pensamentos de quem não entende nada de física

Quando chove,
tenho medo
de dar um curto nos satélites
e algum deles vir camuflado nas gotas
de chuva

No calor,
tenho medo
do meu sangue ferver
de verdade
e de verdade
eu morrer cozido
no meu próprio sangue

Ser humano ao molho pardo com batatas e satélites ao murro.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um abismo de luzes profundas que conversam com as cores dos olhos de quem a gente nunca conversou. Um abismo de sonhos escuros sonhados por pássaros brancos que se sujaram de graxa para não serem abatidos durante a noite. Pássaros e luzes conscientes do que são.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Charles Bukowski

Confissão

esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama

sinto muita pena de
minha mulher

ela vai ver este
corpo
rijo e
branco

vai sacudi-lo e
talvez
sacudi-lo de novo:

“Henry!”

e Henry não vai
responder.

não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.

no entanto,
eu quero que ela
saiba
que dormir
todas as noites
a seu lado

e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas

e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora
ser ditas:

eu
te amo.

sábado, 16 de julho de 2011

o filho iluminado.

ta on cara? eae!
e ela não tinha nem luz e nem água em casa,
disse que tava pra mudar
e parou de pagar.
ia mudar dali uns 3,
4 meses.
economia marota!

é cara,
aquele prédio
vc nao tá ligado velho
...era um corredor muito longo e tal

e era tao quente
que todos deixavam as portas abertas
e daí quando vc passava
vc ia sentindo o cheiro de cada casa
e como tava um puta calor e aquela porra parecia um forno
tinha muita gente na porta e tal,
a maioria sem camisa, meio pelada.

e eu pensei na minha magreza
e na magreza deles, achei louca
a relação da gente ser magro,
eu sou
e eles
talvez
fossem gordos. mas estão magros,muito magros
porque não são filhos
da minha mãe.
Eles são obrigados à magreza.

eu senti que tinha uma luz em mim cara
que eles nao podiam chegar perto de mim, ta ligado?
louco que sem água e luz, o traveco fez uma torta,
soube que a gente ia e quis...

comemorar,agregar, ter motivo pra falar,

pô man, senti que ali tinha vida em todo canto
uma vida
muito louca
que a gente nunca viu

fiquei meio
emocionado
com isso. teve todo aquele papo...

do plano deles...

do meio assalto meio treta...

mas ninguém podia chegar perto de mim...

minha mãe tava projetada, cara...

na minha cabeça...

, ...

não dava pra morrer isso ou, tá ae?...

então......

imagina morrer...

numa ocupação...

com uma louca...

um traveco...

e ......

foda que eles são filhos...

pô man, senti que ali tinha vida em todo canto
uma vida
muito louca
que a gente nunca viu

fiquei meio
emocionado
com isso. ...

foda, mano....

mó foda......

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Eu me lembro de longas despedidas no escuro. O fim do mundo vive nas minhas memórias, cada vez que lembro de um contato, de um gesto, tem cada vez mais vento e menos claridade, minhas lembranças vão se perdendo numa ventania gelada que passa varrendo a luz dos postes derrubados... Lembro de um prédio gigante onde eu apoiado era mais pesado que todas as estradas do mundo. Todo o concreto corrido e eu era mais pesado que o mar. Na distância de dois rostos, existiaalgum volume na atmosfera apaixonada, sentimentos petrificados levitando pesados no ar.... Pelo medo de sentir saudade. O peito aguado, e o coração rebolando na garganta. A sensação de sentir que dois seres estão sentindo a mesma coisa. Eram sonhos que escapavam coloridos pela janela das casas. E eu sempre acreditei em aviões que poderiam voar partidos, uma sensação de pedir perdão pra sempre e pra sempre ser perdoado.