quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sempre reencontro o que eu pensava com 10 anos. Quando alguma coisa era incrível eu parava pra pensar se em algum lugar, meu equivalente, filho de pais equivalentes aos meus, já havia realizado o feito. Pra sempre e até hoje eu paro pra pensar se as felicidades vão se repetindo e se desdobrando entre várias vidas iguais, como lições prontas que vão se encaixando pra educar tais tipos de caráter...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico(desde menino).


— Nelson Rodrigues

domingo, 18 de setembro de 2011

Ensaio para educar Deus.

- Eu gosto de você.

- Ninguém pode gostar de mim.

- Quem disse?

- Eu disse, quem mais? Você também vai dizer algum dia.

- Que direito você tem de adivinhar minhas palavras e fazer meus planos por mim?

- Direitos? Não tenho direitos, eu nem sei se existo.

- Para de insistir nessas coisas de não gostar e de não existir.

- Eu não posso parar, nem ser gostado e nem existir, aliás, eu nem tou aqui. Eu tou capotado.

- Que noite mais escura do mundo.

- É, pra mim é assim toda noite, eu sei que não é assim pra todo mundo, mas pra mim é e eu aceito, por mim tudo bem...

- Não! Imagina! Ninguém merece uma noite dessas, menino.

- Não reclama.

- Tem que reclamar sim! Reclama com ele.

- Como se eu não rezo?

- Ai, cada lugar que você se mete! E você é tão bonito.

- Cada lugar que você me encontra... E a mulher bonita é muito mais bonita que o homem bonito...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Otávio e as flores tristes na janela.

Quando chove, eu fico vendo a chuva cair batendo em tudo, nos telhados, nas casas, nas pessoas, ela deve vir batendo desde os aviões, desde os pássaros! Eu tenho certeza de que se eu fosse chuva, se eu fosse uma gota de chuva, eu caíria livre, rente aos aviões, rente aos pássaros, ia mergulhar lá do céu, do firmamento, direto em queda livre, sabe? Nem que eu caísse numa árvore, no meio do mato, numa floresta! Eu sei que passaria por todas as folhas, por todos os galhos, eu passaria como um fantasma. Eu acho que as pessoas ficariam olhando admiradas, como sempre ficam. Ficariam olhando eu cair, ficariam dizendo umas as outras que a gota caindo era linda. Ficariam encantadas e não me escutariam gritando se eu pedisse ajuda. Estariam todas surdas olhando cegas pra mim, como sempre fazem... Eu caíria sozinho desde o céu. Nasci pra ser visto e só. E eu como gota de chuva seria assim mesmo, viria do céu só pra explodir no asfalto, viajaria o céu inteiro sem fazer sentido pra mais ninguém, sem dizer uma palavra, eu chegaria ao chão com o mesmo peso, da mesma forma que eu comecei a cair, nada me mudaria.