Aprendi que a coisa que mais me enoja é a falsidade, o título de "amor" sem amar e a mentira pra agradar, a mentira na arte é um crime contra toda a história do artista, mentir para alguém que acabou de descer do palco, é anular toda a sensação que o mesmo tentou criar, é anular a epifania de qualquer coisa, o publico consegue matar uma maravilha com um simples comentário piedoso. A solidão das pessoas que só querem agradar e não tem peito de criticar. Se você não pode seguir um caminho onde será ignorado por muito tempo, ou onde ninguém saberá seu nome, seu lugar não é no teatro ou nas artes, que o seu nome se torne algo através do tempo e da sua verdade, que o seu nome seja lembrado na mesma medida que você emprestou seu tempo e sua paixão, ainda acredito naquela coisa que as tias falam "se você for bom, será reconhecido" e é por aí, você pode ser amigo de quantos diretores você quiser, mas se você não tiver um fogo em tudo que faz, pode crer que não vai adiantar seguir no twitter e nem curtir no facebook, você vai ficar estagnado na incomunicabilidade, e nem é com o mundo, é com você mesmo, se você não queimar a técnica em cada movimento que executa no palco, não vai adiantar mandar beijinhos ao @influente... Você vai continuar lá, pagando por mês e sendo o chato das redes sociais.
Não forçar amizades, não abraçar por abraçar, não elogiar para começar um conversa.
As coisas começam quando você começa pra você mesmo, ou você dialoga com suas esperanças ou vai terminar grifando o trabalho dos outros, esquece a fama, esquece o network, vai pra cima da verdade, das citações e dos bons trabalhos, esquece a balada bem frequentada e vai pro word, pro caderno com caneta, fala contigo e escuta, entende que ou você é ator, ou uma sombra no teatro, uma sombra que fala, anda e atua, uma sombra sem verdade. Sem motivo de estar ali, a solidão das flores de plástico e das pessoas de plástico.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Três trechos
Carlinhos contraia todos os músculos do corpo, não queria parecer flácido. A cama rangia e a imagem mental de Odete os fez paralisar no mesmo instante, olharam-se, sorriram e concordaram com o olhar que deveriam continuar. Carlinhos olhou para o chão acarpetado, aos poucos foi criando uma avalanche de corpos, terminaram no chão e só então Sarah entregou-se de verdade, jogada no chão olhando para baixo da cama, reparou em um copo cheio de formigas, Carlinhos em sua melhor performance agradou. Sarah satisfeita, abriu a boca para falar alguma coisa, não tinha fôlego, falou sem voz e riu, muda, da própria exaustão. Otávio fora eclipsado pela química dos dois, então Sarah levantou-se, Carlinhos escutou barulho de água e ela voltou com uma toalha branca, jogou-lhe na cabeça e disse com jeito de menina:
- A gente ta namorando?
. Sarah sorriu por dentro e por fora, nunca mais pagaria uma conta na vida, nunca mais ficaria sem sair por falta de dinheiro, apaixonou-se mais e apesar da classe de pensamento, Sarah foi gentil e doce, foi para a cozinha e cozinhou, queria ser lembrada também com algum sabor, quis ser única em alguma coisa e em alguma sensação:
- Eu cozinho! Cozinho pra você!
.Trocaram-se juntos. Carlinhos ficou pronto por último por que vez ou outra olhava para Sarah se vestindo, como se não tivessem transado, ainda tinha curiosidade no corpo da menina, Sarah com o cabelo curto curvando-se no ombro, Sarah era sensual por natureza
- A gente ta namorando?
. Sarah sorriu por dentro e por fora, nunca mais pagaria uma conta na vida, nunca mais ficaria sem sair por falta de dinheiro, apaixonou-se mais e apesar da classe de pensamento, Sarah foi gentil e doce, foi para a cozinha e cozinhou, queria ser lembrada também com algum sabor, quis ser única em alguma coisa e em alguma sensação:
- Eu cozinho! Cozinho pra você!
.Trocaram-se juntos. Carlinhos ficou pronto por último por que vez ou outra olhava para Sarah se vestindo, como se não tivessem transado, ainda tinha curiosidade no corpo da menina, Sarah com o cabelo curto curvando-se no ombro, Sarah era sensual por natureza
Clássicos na solidão da caminhada
Ele deitado na calçada, ao lado do churrasquinho, com o olhar fixo, ele deitado, descansando a vida, mas extremamente compromissado, é característica dos cães serem assim, obstinados, focados e concentrados, vira-latas geralmente tem pressa, correm para todos os lugares, não sei pra onde ,mas é assim, eles sempre focados vão se enfiando entre os carros ou tamborilando as unhas no asfalto. Eu voltando com meu Bergman enfiado na sacolinha, pensei na razão de eu alugar filmes, pra que? Pra que? Legal mesmo é cobiçar churrasquinho o dia todo, ou esperar o dono chegar. Engraçado como o cachorro conseguiu acabar com meu dia, me senti preocupado demais perto dele, desnecessariamente preocupado. O tempo vai passar e eu vou esquecer dos filmes que vi, no corpo só vai ficar o que eu comi, o que me sustentou e me manteve vivo... Mas hoje, o que me mantém vivo é a descoberta, meio como aquela coisa da bíblia "o pão é a realidade, mas o álcool é imaginação"... Tenho me alimentado mais de imaginação e aí eu me pergunto, o cão-concentrado queria mesmo o real? Quem quer o real? Quem vive do real? Ninguém tem colhões pra viver a vida, não mesmo... Por isso e só por isso, existem locadoras em todos os bairros da cidade.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Sobre Catupiry e amizade
Ontem recebi o primeiro salário da minha vida, enquanto muitos dos colegas diziam que era o "primeiro dinheiro com teatro" aquele foi o primeiro que recebi porque trabalhei, já recebi pro freelas mas é diferente. Nem foi tanto com o dinheiro que fiquei feliz, a felicidade veio depois, fui ao Vitrine ( na Augusta ) e lá gastei meu dinheirinho, com alguns amigos eu fiquei lá, comendo, falando e fixando um pacto de amizade para sempre, e assim é, enquanto um de nós tiver alguma moeda no bolso, todos tem uma moeda também, sempre foi assim e ontem depois de muito tempo, todos meus amigos tiveram meu cachê no bolso deles também. Brindei com coca-cola e gratidão, pelas vezes que eu tive o dinheiro deles também. A fraternidade dos homens é uma das poucas coisas que ainda me fazem crer na humanidade, a amizade sobrevive em porões escuros, nas distâncias, físicas se afetivas, mas se renova com um telefonema, uma topada na rua, ou uma pizza de Frango com Catupiry. E ontem eu dividi a conta.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
A nova ordem
Eu nos meus exercícios de direção venho tentando me recriar a cada dia, não tenho uma linha para seguir, mas tenho os Dvds aqui de casa para não assistir. Caí numa fluência louca de criar e recriar, antes de apresentar a cena para os atores, eu crio e recrio, mato e dou a vida algumas vezes, hoje me deparei com o impalpável, uma marcação que tava me consumindo e me bloqueando de todas as outras possibilidades, a partir de um plágio eu tentei criar a partir do conceito, por fim usei uma idéia antiga que eu nem sei de onde veio ou a quanto tempo guardei, e acho que alcancei um resultado interessante dentro do meu trabalho, engraçado que num quarto mal iluminado com uma atriz lendo o texto, eu me senti criando no maior palco do mundo e da forma mais natural possível. Meus amigos atores andam generosos comigo e a partir disso eu me recrio dentro dos seus olhos, e do estilo deles, no fim eu me reconheço em cada marcação, cada sobrancelha dirigida, mas no começo, me sinto aprendendo a ler, unindo cada letra, cada sílaba ao caractere, os corpos que eu desenho acabam criando uma palavra ao término da direção, cada cena é uma palavra e cada gesto um som.
domingo, 5 de setembro de 2010
De repente
De repente no meio da noite fui assaltado por um poema, um poema de memória antiga que eu quase assustei quando escrevi, não escrevo poesia, mas essa veio tão de repente, tão silenciosa, deve ser a primeira verdade que eu digo (em literatura) de uns tempos pra cá...
.De madrugadas enfronhadas nos ouvidos
Luzes numa memória fosca e triste
Se a boca eu lavo com comida nova
O peito eu deixo secar com roupa usada
Das manhãs animadas e claras
Das madrugadas ativadas pelos festejos antigos
Rituais, cheiros, mortos revelados e velados no portão
Se a terra seca e repousa me atrai
O mesmo acontece com o céu duro, opaco e por acaso
De madeira, de cheiro, de vozes
De pais, mães e irmãos.
.Ouvido o distante barulho dolorido, das castanhas pisadas
A cara já cresce, o peito já pulsa
No distante relevar de um rosto conhecido e inventado
A casa emagrece em frente a lua
E a fresta recortada, dos olhos apertados, se retira
Era essa, só mais uma memória secreta.
Só mais uma música festiva que não voltarei a ouvir
Mais um som misturado a imagens, cheiros e comida nova.
.De madrugadas enfronhadas nos ouvidos
Luzes numa memória fosca e triste
Se a boca eu lavo com comida nova
O peito eu deixo secar com roupa usada
Das manhãs animadas e claras
Das madrugadas ativadas pelos festejos antigos
Rituais, cheiros, mortos revelados e velados no portão
Se a terra seca e repousa me atrai
O mesmo acontece com o céu duro, opaco e por acaso
De madeira, de cheiro, de vozes
De pais, mães e irmãos.
.Ouvido o distante barulho dolorido, das castanhas pisadas
A cara já cresce, o peito já pulsa
No distante relevar de um rosto conhecido e inventado
A casa emagrece em frente a lua
E a fresta recortada, dos olhos apertados, se retira
Era essa, só mais uma memória secreta.
Só mais uma música festiva que não voltarei a ouvir
Mais um som misturado a imagens, cheiros e comida nova.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
No ônibus
A velha galega socada na última fileira do ônibus, suada com o celular quente colado na cara:
" Então leva o chinelo, o chinelo! Isso, leva o chinelo que lá você vai andar com de pé ... "
. Que mundo aloprado é esse que as pessoas precisam premeditar andar com os pés?
" Então leva o chinelo, o chinelo! Isso, leva o chinelo que lá você vai andar com de pé ... "
. Que mundo aloprado é esse que as pessoas precisam premeditar andar com os pés?
O Estado de S.Paulo, 3 de setembro de 2010.
Satyros e Koltès, um encontro explosivo
Montagem de Roberto Zucco pelo grupo é tragédia grega revisitada
Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo
Aos 19 anos ele esfaqueou a mãe e estrangulou o pai, escondendo os corpos numa banheira cheia para retardar o trabalho da polícia. Fugiu, foi capturado, julgado e mandado para o manicômio judiciário com uma pena de dez anos. Passou cinco anos nele, aproveitando para estudar ciências políticas. Conseguiu escapar, viajou para a França de trem, estuprou e matou duas adolescentes, um médico e dois policiais que o perseguiam. Seguiram-se sequestros e assassinatos na França, Itália e Suíça. Finalmente preso em sua terra natal, Mestre, perto de Veneza, ainda tentou escapar sem sucesso pelo teto da prisão. Dois meses depois, em maio de 1988, matou-se em sua cela. Esta foi a trágica vida breve do italiano Roberto Succo (1962-1988), que o francês Bernard- Marie Koltès (1948-1989) contou no ano da própria morte em sua peça Roberto Zucco, encenada postumamente pelo alemão Peter Stein, em Berlim, em 1990.
A mesma peça de Koltès é apresentada agora numa nova montagem do grupo Satyros sob direção de Rodolfo García Vázquez. O mínimo que se pode dizer dela é que se trata de uma experiência quase tão forte - o quase fica por conta da representação - como a trajetória de Zucco rumo ao abismo. Isso explica a opção de Vázquez por uma montagem circular, que ocupa os quatro cantos da sala dos Satyros, fazendo o público acompanhar esse percurso mítico em arquibancadas móveis. Ele participa literalmente da cena, não como espectador, mas testemunha dos crimes desse serial killer, morto aos 26 anos. É uma maneira de tornar simbólica a corresponsabilidade civil por crimes hediondos de um anti-herói insolente que violou a lei dos homens e dos deuses, como nas tragédias gregas. Não sem razão, a cada movimento da arquibancada corresponde um movimento pendular de Zucco entre hybris e sophrosyne, ou seja, entre a insana desmedida do renegado e a busca da virtude libertadora da razão.
Melancolia e violência são duas palavras que definem a peça de Koltès, filho dileto da classe média francesa cuja vida de rebelde começa num registro pasoliniano - ele ganhou projeção aos 22 anos numa montagem de Medeia dirigida pelo transgressivo Jorge Lavelli, em 1970. Como Pasolini, era homossexual e morreu aos 41 anos de forma igualmente trágica, sentindo-se um serial killer que espalhou entre seus parceiros o vírus da aids, então encarada como uma peste. Deixou 12 peças que tratam de um sentimento comum aos desajustados, o do exílio dentro da sociedade em que vivem. Isso explica o fascínio que um proscrito como Zucco exerceu sobre Koltès. O mesmo incômodo provocado pelos marginais de Pasolini era o que pretendia causar o dramaturgo: ambos falaram de um mundo em transformação, um mundo de excesso, desregrado, de Zuccos impetuosos que matam o pai e a mãe pelas chaves do carro.
Barbárie. Koltès evita o tom moralizante e tenta entender como Zucco extrapolou os limites. O diretor García Vázquez reforça o paradoxo de um estudante de linguística - é assim que se define Zucco na peça - ser um assassino também das palavras, alguém empenhado em destruir a linguagem de seus pares para impor o reino da barbárie, do terror, matando o pai como Édipo, desafiando com arrogância aquilina o poder patriarcal do Estado. O paradoxo maior, porém, é a linguagem poética que usa Koltès para dizer tais coisas, reforçada pela expressiva entonação de Robson Catalunha, um jovem ator de 25 anos que contracena com outra grande promessa do teatro, a atriz Maria Casadevall, de 23 anos, no papel de uma burguesa que Zucco conhece num parque (em backprojection, boa solução cênica) e que se recusa a dar a chave do carro para o bandido, provocando a morte do filho. São nomes para não esquecer, assim como da atriz Cléo de Páris.
Impressiona o cuidado de uma produção com 20 atores ter sido montada sem patrocínio oficial e o esforço de bons atores trabalhando no contrafluxo do comercial teatro "sala de visita" que se faz hoje em São Paulo. Da escolha do tema musical por Ivam Cabral (Passio, de Arvo Päart) aos figurinos de Lori Ann Vargas e cenário de Marcelo Maffei, o Roberto Zucco de García Vázquez não é um espetáculo. É, como se disse, uma experiência de impacto, que tira o público de sua estabilidade e, por que não dizer, de sua passividade.
ROBERTO ZUCCO
Espaço dos Satyros 1. Praça Roosevelt, 214, tel. 3258-6345.
6ª e sáb., 21h30; dom., 18h30.
Preço: R$ 30.
Em cartaz até dezembro
Fonte: O Estado de S.Paulo, 3 de setembro de 2010.
Montagem de Roberto Zucco pelo grupo é tragédia grega revisitada
Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo
Aos 19 anos ele esfaqueou a mãe e estrangulou o pai, escondendo os corpos numa banheira cheia para retardar o trabalho da polícia. Fugiu, foi capturado, julgado e mandado para o manicômio judiciário com uma pena de dez anos. Passou cinco anos nele, aproveitando para estudar ciências políticas. Conseguiu escapar, viajou para a França de trem, estuprou e matou duas adolescentes, um médico e dois policiais que o perseguiam. Seguiram-se sequestros e assassinatos na França, Itália e Suíça. Finalmente preso em sua terra natal, Mestre, perto de Veneza, ainda tentou escapar sem sucesso pelo teto da prisão. Dois meses depois, em maio de 1988, matou-se em sua cela. Esta foi a trágica vida breve do italiano Roberto Succo (1962-1988), que o francês Bernard- Marie Koltès (1948-1989) contou no ano da própria morte em sua peça Roberto Zucco, encenada postumamente pelo alemão Peter Stein, em Berlim, em 1990.
A mesma peça de Koltès é apresentada agora numa nova montagem do grupo Satyros sob direção de Rodolfo García Vázquez. O mínimo que se pode dizer dela é que se trata de uma experiência quase tão forte - o quase fica por conta da representação - como a trajetória de Zucco rumo ao abismo. Isso explica a opção de Vázquez por uma montagem circular, que ocupa os quatro cantos da sala dos Satyros, fazendo o público acompanhar esse percurso mítico em arquibancadas móveis. Ele participa literalmente da cena, não como espectador, mas testemunha dos crimes desse serial killer, morto aos 26 anos. É uma maneira de tornar simbólica a corresponsabilidade civil por crimes hediondos de um anti-herói insolente que violou a lei dos homens e dos deuses, como nas tragédias gregas. Não sem razão, a cada movimento da arquibancada corresponde um movimento pendular de Zucco entre hybris e sophrosyne, ou seja, entre a insana desmedida do renegado e a busca da virtude libertadora da razão.
Melancolia e violência são duas palavras que definem a peça de Koltès, filho dileto da classe média francesa cuja vida de rebelde começa num registro pasoliniano - ele ganhou projeção aos 22 anos numa montagem de Medeia dirigida pelo transgressivo Jorge Lavelli, em 1970. Como Pasolini, era homossexual e morreu aos 41 anos de forma igualmente trágica, sentindo-se um serial killer que espalhou entre seus parceiros o vírus da aids, então encarada como uma peste. Deixou 12 peças que tratam de um sentimento comum aos desajustados, o do exílio dentro da sociedade em que vivem. Isso explica o fascínio que um proscrito como Zucco exerceu sobre Koltès. O mesmo incômodo provocado pelos marginais de Pasolini era o que pretendia causar o dramaturgo: ambos falaram de um mundo em transformação, um mundo de excesso, desregrado, de Zuccos impetuosos que matam o pai e a mãe pelas chaves do carro.
Barbárie. Koltès evita o tom moralizante e tenta entender como Zucco extrapolou os limites. O diretor García Vázquez reforça o paradoxo de um estudante de linguística - é assim que se define Zucco na peça - ser um assassino também das palavras, alguém empenhado em destruir a linguagem de seus pares para impor o reino da barbárie, do terror, matando o pai como Édipo, desafiando com arrogância aquilina o poder patriarcal do Estado. O paradoxo maior, porém, é a linguagem poética que usa Koltès para dizer tais coisas, reforçada pela expressiva entonação de Robson Catalunha, um jovem ator de 25 anos que contracena com outra grande promessa do teatro, a atriz Maria Casadevall, de 23 anos, no papel de uma burguesa que Zucco conhece num parque (em backprojection, boa solução cênica) e que se recusa a dar a chave do carro para o bandido, provocando a morte do filho. São nomes para não esquecer, assim como da atriz Cléo de Páris.
Impressiona o cuidado de uma produção com 20 atores ter sido montada sem patrocínio oficial e o esforço de bons atores trabalhando no contrafluxo do comercial teatro "sala de visita" que se faz hoje em São Paulo. Da escolha do tema musical por Ivam Cabral (Passio, de Arvo Päart) aos figurinos de Lori Ann Vargas e cenário de Marcelo Maffei, o Roberto Zucco de García Vázquez não é um espetáculo. É, como se disse, uma experiência de impacto, que tira o público de sua estabilidade e, por que não dizer, de sua passividade.
ROBERTO ZUCCO
Espaço dos Satyros 1. Praça Roosevelt, 214, tel. 3258-6345.
6ª e sáb., 21h30; dom., 18h30.
Preço: R$ 30.
Em cartaz até dezembro
Fonte: O Estado de S.Paulo, 3 de setembro de 2010.
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