quinta-feira, 26 de maio de 2011

PI = 126

E foi então que encontrei o professor, que um dia me contou que eu jamais poderia ser ator, apesar da vocação e de tudo, meus problemas motores e minha timidez não permitiriam a mim uma carreira profissional, e foi então que ele perguntou o que eu estava fazendo da vida, e eu respondi.

Contei pra ele o que eu estava fazendo da vida.

Foi então que uma porta para o passado se abriu e ele falou o que eu não precisava mais ouvir:

"Parabéns"

Mas foi bom ouvir.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Da obra de:

"Somente a leitura ou a releitura de todas as minhas peça poderá trazer uma compreensão justa, sem distorções, do que digo pela boca de meus personagens, seres aparentemente obcecados e possessos, mas na realidade portadores de defeitos e qualidades cotidianas. Sempre me propus uma síntese do homem quando dei vida dramática a esses personagens. Por isso digo e repito: eles valem. são mais reais que nós mesmos."

Nelson Rodrigues

domingo, 22 de maio de 2011

Um lugar amplo com prédios baixos e céu aberto. Uma grama bem aparada com as guias da calçada pintadas e delicadas como vidro. As ruas lisas. O ar leve. Janelas abertas.

Sonho com um lugar assim. Sempre. A imagem mental existe em algum lugar?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

As conversas iluminadas

Prometo que a gente se acerta, te amo, te entendo, ele se jogou da janela, te devolvo, te empresto, eu venho, eu vou, você tá aí?

Me atende, te liguei, você me ligou?

Tou com você, você fez bem, vamos fazer de verdade, gostei disso.

E as novidades? E a vida? Um cachorro me atacou.

E eu sentei do lado dela, fiquei olhando e pensando em como deve ser chegar em casa sendo ela, e sentar na frente da TV, comer o que tiver na geladeira e apoiar o copo de coca-cola no colo. Esperar alguém, ou ninguém, ficar satisfeito com o que se é e ser.


Foi então, assim então, que respirei e senti ~~~

~~~~

a minha alma iluminada ~~~~

domingo, 15 de maio de 2011

A tartaruga iluminada

Descendo a Augusta, longe de mim, com o olhar onde queria chegar logo. Num ritmo de quarenta num total de cem. E no meio da rua, de todos os animais que poderiam passar por ali, passou uma tartaruga.

Fiquei lá, assistindo a tartaruga atravessar a rua, parei, sentei na sarjeta e observei a tartaruga cruzar a cidade. E é isso, na vida o que nos resta é gastar dinheiro e observar os animais parando a beleza. Absoluta no seu ritmo, infinita nos seus objetivos.

sábado, 14 de maio de 2011

Cachorros são bebês que podem dormir no sereno.

Quantos cheiros de podridão será que a humanidade já criou? Cada mendigo tem seu cheiro.

E você? Quando você abraça, passa os braços por cima ou por baixo dos braços de quem te retribui? Eu passo por baixo.

Sonhei que comprava uma biografia do Bukowski, dentro de um ônibus, onde o vendedor me dizia " ELE NÃO ESTUDOU, MAS É MUITO BOM"... E eu comprei por 5 "aqués"

E por outra conheci um sujeito que é revisor de textos, perguntei se revistas, peças, romances, ele respondeu que revisava bíblias, surpreso perguntei como era esse lance de corrigir o que Deus falou, se ele se sentia poderoso ou algo assim e ...

- Cara, eu nunca pensei nisso. Faz sentido.

Tenho novos e velhos melhores amigos.

domingo, 8 de maio de 2011

Qual será a dor de deixar o filho na escola pública e seguir pro emprego?

quinta-feira, 5 de maio de 2011

É tanta gente seguindo tanto caminho, que às vezes eu confundo o que é gente e o que é caminho, entende?
Quase agora, umas 05h30min da manhã. Encontrei um velho amigo, que se viciou em crack. Ele usando uma touca amarela e umas calças modernas, roupas que o abrigo deu. Perto da Rego Freitas eu vi um homem transformado em nada. E o "nada" me contou que:

“Meu filho me ligou, eu liguei pra ele, não fala que você me viu assim. Ele me disse, eu disse pra ele, ele me disse que eu tou me esquecendo de que ele é menino, mas que logo vira homem. Ele disse que vai virar homem e me resgatar dessa merda, ele me disse! Tenho 3 horas pra dormir em um carro abandonado, na cracolândia, depois não posso mais, quando o dia aparece eu não posso mais...”

E eu me perguntei quem era o nada da história, ele, eu, ou nós dois? Ele que é vítima dessa merda toda, ou eu, que conversei rápido pra não precisar negar dinheiro pra ele.

Ele queria me pedir, e eu não queria dar, quem é mais "nada" nisso tudo? Eu que recusaria a grana, por achar que viraria pedra, ou ele, que talvez estivesse querendo realmente comer e não me pediu por medo de eu achar que era pra comprar pedra? Por fim esqueci que ele talvez estivesse com fome, ele me abraçou e eu perdi todos os meus pensamentos na imagem daquela boca sem dentes, meu foco saiu correndo e eu não consegui mais escutar as palavras. Entramos num bar, fiquei olhando pros salgados, ele deu uma golada em alguma coisa que vinha trazendo num copo de plástico.

E ele não me pediu "nada"... E eu não dei "nada".

terça-feira, 3 de maio de 2011

Como seria o levante dos sapos que foram presos pelas crianças em potes de margarina?
Como se perdoa o botão de uma calça jeans?
O que é ser contemporâneo a uma lâmpada de neon?
Esquecer os benjamins sempre foi mais fácil que esquecer os aquecedores.
Formatando a neblina pra ver se o Sol aparece.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

As mulheres indo trabalhar

Hoje, saindo do metrô, cedinho com a chuva rala da manhã, eu me vi parado observando a derradeira obstinação das mulheres que vão para o trabalho, seus olhos fixos no caminho e seus saltos duros no chão. Tão bonita a forma como a maquiagem é modelada nas caras de sono, os cabelos escovados e os dentes brancos que só queriam estar dormindo ainda. As mulheres são de uma força única, fiquei pensando em tudo isso, na forma como as roupas são passadas pela manhã e na forma como todas vão com certo brilho no olhar, um brilho de quem quer produzir, conseguir, e fazer alguma diferença.

Mulher séria é outra jogada, e no metrô todas são sérias. Cheias de objetivos e bolsas de couro falso.

Curiosa a forma séria e meiga que elas conseguem transmitir. Femininas, formais e atenciosas sem nunca mover os olhos para olhar um cara bonito, ou um burburinho, ou eu.

A forma como o batom é sempre delicado. Parecem-me todas mornas, nem quentes de cama e nem frias de rua, mornas de café tomado com pressa. Não gostam de chicletes. Respiram delicadas como se fosse a apresentação do ar aos pulmões.

E fico imaginando todas elas apaixonadas, todas elas fora de si, com os sorrisos abertos e paixões ardentes num cabelo solto nos ombros, apaixonadas e desempregadas quem sabe, quem sabe?