quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quase agora, umas 05h30min da manhã. Encontrei um velho amigo, que se viciou em crack. Ele usando uma touca amarela e umas calças modernas, roupas que o abrigo deu. Perto da Rego Freitas eu vi um homem transformado em nada. E o "nada" me contou que:

“Meu filho me ligou, eu liguei pra ele, não fala que você me viu assim. Ele me disse, eu disse pra ele, ele me disse que eu tou me esquecendo de que ele é menino, mas que logo vira homem. Ele disse que vai virar homem e me resgatar dessa merda, ele me disse! Tenho 3 horas pra dormir em um carro abandonado, na cracolândia, depois não posso mais, quando o dia aparece eu não posso mais...”

E eu me perguntei quem era o nada da história, ele, eu, ou nós dois? Ele que é vítima dessa merda toda, ou eu, que conversei rápido pra não precisar negar dinheiro pra ele.

Ele queria me pedir, e eu não queria dar, quem é mais "nada" nisso tudo? Eu que recusaria a grana, por achar que viraria pedra, ou ele, que talvez estivesse querendo realmente comer e não me pediu por medo de eu achar que era pra comprar pedra? Por fim esqueci que ele talvez estivesse com fome, ele me abraçou e eu perdi todos os meus pensamentos na imagem daquela boca sem dentes, meu foco saiu correndo e eu não consegui mais escutar as palavras. Entramos num bar, fiquei olhando pros salgados, ele deu uma golada em alguma coisa que vinha trazendo num copo de plástico.

E ele não me pediu "nada"... E eu não dei "nada".

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