segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Reciclando . Acontece?

Os azulejos lisos refletiam as roupas brancas e impregnadas do cheiro de ceia triste. As pessoas davam voltas em si, transparentes umas as outras. Meia noite e ninguém se abraçou no 1 de janeiro. Toques polifônicos resultantes das discagens rápidas, e dos “enviar” sendo apertados ao mesmo tempo. Ela pensou em pegar o celular, abriu o visor e o viu desligado, tentou ligar e o viu sem bateria, não descarregado, e sim, sem A bateria. Olhou para os lados, estranhou o celular desmontado na bolsa, olhou para os lados, encontrou os olhos dele, com a bateria no bolso da camisa (branca por acaso).

- Fica comigo, passa o ano novo comigo, depois você liga.

- Preciso ligar para as pessoas!

- Não precisa. A gente não precisa ligar para ninguém.

Abraçaram-se e no mundo surdo de um ouvido só, ficaram juntos. Enquanto a parentada apertava o celular num ouvido e o dedo indicador no outro, ficaram juntos. Somente eles, humanos e envolvidos no meio de um hospício aberto habitado por pessoas ligando para quem estava no outro cômodo

7 comentários:

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  2. Lindo, lindo, lindo.

    Um palco turvo, apagado. Somente vivo por uma luz no centro - Eles, juntos, formando um corpo só.

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  3. Muito forte. Não sabia que escrevia. Só tenho de ti os cumprimentos na frente e dentro do teatro, e os personagens que encorpora.

    Aliás, parabéns! Zucco foi uma experiência imensuravelmente incrível.

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  5. Ah! Que feliz eu fiquei, lembrei de você também.

    apareça mais vezes, tem muita coisa na praça.

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  6. Aparecerei provavelmente essa semana de novo. Espero te encontrar por lá.


    Também escrevo, se quiser me ler.

    http://moneternelmystere.blogspot.com/


    Beijo.

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