Escrevo "isso" às vezes, abro e escrevo mais um pouco, não tem enredo, fim, começo, comprometimento, eu só escrevo. Como "Bóris - O Vermelho" de Jorge Amado, não é para acabar, é para ir criando-se, é para esvaziar-me:
Nas janelas úmidas de cobre velho, o amarelo torturado do Sol poente mergulha no fundo do horizonte. Em equilíbrio os velhos servem o pão fermentado, e as velhas amassam o milho e o fundem ao óleo, chamam de manteiga. Os animais arranham a terra batida permeiam e rodeiam o circundar da mesa, a mesa de madeira carnaúba enterrasse na tradição do almoço, o som “gaitoso” dos animais roucos acomoda o canto agudo dos pássaros azuis, eles preparam a revoada ao tilintar do sino velho. Nesse tempo onde a astrologia é regra e as fases da lua são leis, as casas mal dependuradas no alto dos morros, sobrevivem com o tênue equilíbrio do barro com a chuva e as casas agradecem aos gentis insetos que não as sucumbem. Os medos e as falas lembram um português espanholado, as mulheres carregam em si e nos seios um peso grego, um ar de tragédia nas roupas costuradas num amarelo arrependido pelo branco, parecem sempre secas e empoeiradas, o mar faz o som das hélices não inventadas e esse som é o primeiro passo para a invenção do avião. Foi o misturar da espuma do mar no áspero do recife recém formado que inspirou o piloto. As mulheres desse tempo não conheciam a cor da porra, ela que sempre era disparada internamente, preservava-se no mistério do útero. Laranjas obesas oscilando e ameaçando explodir em suco, o pombo, igualmente obeso, voando pesadamente pelo céu róseo, a vida obesa da natureza intocada se mistura ao bege esfarelado que prende nos sapatos também não inventados. Era de céu exageradamente estrelado e verdadeiramente representativo, onde as constelações eram demarcadas como as sobrancelhas do ser humano que é bonito. Tempo onde os parentescos eram todos de primeiro grau, filhos pais dos netos e irmãs mães dos primos. O matuto puxou a virgem de lado e perguntou – Não quer conhecer a força que move o mundo?
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