quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O sangue como os estados da água.
Quando congelado é carne, quando evaporado é dor.
Em um vasilhame é estudo, pesquisa e genética

Já a água em cilindro é vida, aquário ou piscina.

Sangue sai,
Água escoa.

Sangue é ferro, ao passo que a água enferruja.
Sangue suja, e a água limpa.
Água pra dentro mata a sede, sangue pra fora mata a gente.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Negro Drama - Racionais Mc's

Daria um filme,
Uma negra,
E uma criança nos braços,
Solitária na floresta,
De concreto e aço,

Veja,
Olha outra vez,
O rosto na multidão,
A multidão é um monstro,

Sem rosto e coração,

Hey,
São paulo,
Terra de arranha-céu,
A garoa rasga a carne,
É a torre de babel,

Famíla brasileira,
Dois contra o mundo,
Mãe solteira,
De um promissor,
Vagabundo,

Luz,
Câmera e ação,

- - - - - - - - - - - -

De carnaval a carnaval,
Eu vim da selva,
Sou leão,
Sou demais pro seu quintal,

Gravando a cena vai,
Um bastardo,
Mais um filho pardo,
Sem pai,

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Luz branca

Apaixonei-me por luzes, entendi os astros e o tamanho do natural. Respeito médicos e matemáticos. Eles fazem uma parte que eu não saberia fazer. Lançaria-me em um rio e não estancaria uma hemorragia... Estou com a cabeça pra fora d’água e correntes subaquáticas me carregando pra longe. Encontrei, reencontrei, fiquei mais alto que um amigo. A cerveja ainda continua um pouco amarga e eu ainda não desisti. Eu deveria ter plantado um feijão no dia primeiro do ano passado, hoje eu teria uma obra para contemplar. Ganhei músculos, fiquei todo redondinho sem camisa. Dias de adulto, comida no por quilo. A leve impressão de que tenho menos cílios do que no ano passado. As mulheres perderam o mistério profundo. Sinto que o mundo vive um fim, e eu me despedindo de olhos abertos. Olhos que não choram desde o ano 2000. Notícias como nada. Juras, choros, suspiros, flertes, saltos e mergulhos e o mundo cheio de papéis definidos e mal defendidos. Fotos como retrato da carência e as noites como redenção da melancolia. A esperança do dia e todo dia correndo para uma noite. Rir do fracasso se mostra essencial. Tá todo mundo se despedindo e ninguém quer ficar sozinho. Só os velhos que ficam sorrindo sabem do que a vida é capaz e o passado é muito honesto com todo mundo. Os tios velhos torcendo por mim. Amor na minha vida.

O ano mais arriscado da minha história e meu irmão apanhando de passarinhos.

Eu que vivi todos os dias do ano e devo me lembrar de no máximo 50 crepúsculos.
O antigo ainda é meu. Novos cheiros, lugares e mares em uma cama. Vontade de mastigar delícias, casar com loucas, lutar com bandidos e escrever tudo, ganhar prêmios e sacanear na premiação, me fazer de bobo, dizer que foi tudo idéia da minha mãe. Agora sou um herói de bang-bang para maiores de 18 anos. Tenho caminho e perdi o medo da polícia, cometeria crimes e dançaria com o demônio para tirar algumas dúvidas em relação ao bem e o mal. Um solstício em lâmpadas de led para toda a minha eternidade. Se eu for com 100, mais 80 anos no mundo. 2011 um ano doce. A Praça Roosevelt cobrando alguns favores, faço vídeos do clímax e vejo rostos de apagando, o único medo é o de não encontrar certas pessoas, lugares e idéias, a morte me abalou, a minha (única, exclusiva e surpreendente) não me preocupa, eu sofro pelo sonho dos outros.

Eu não quero perder ninguém.

Na boataria todo mundo se debatendo pra respirar um pouquinho do bem de alguém.

Cosmético como ungüento da burrice. Tristeza no carnaval.

Conheci gente que se chama ninguém e seres de mundo iluminado, abraço para quem instiga o lúcido e se abraça no nada.
Neste ano eu só queria ter chorado mais, por qualquer motivo, na flor da pele um jardim inteiro.

Meu melhor ano.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

sobras do papel -

Um cachorro abandonado na chuva partilha dos mesmos sonhos de um homem que passa férias em Paris. A luz ilumina igualmente o homem rico e o cão que vagueia no temporal. Do mesmo céu despenca a chuva que pode alagar igualmente a vida de ambos.

Constelação translucida de homens olhando para o alto e enxergando o próprio reflexo na chuva presa nas nuvens.

No lcd do visor dos meus aparelhos. Na tela do computador e do celular, o tempo em relógios digitais. Todos os meus objetos me contam a hora. Minhas baterias me conectam ao tempo e eu mesmo não terei uma vida mais longa do que elas.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Escrevo "isso" às vezes, abro e escrevo mais um pouco, não tem enredo, fim, começo, comprometimento, eu só escrevo. Como "Bóris - O Vermelho" de Jorge Amado, não é para acabar, é para ir criando-se, é para esvaziar-me:

Nas janelas úmidas de cobre velho, o amarelo torturado do Sol poente mergulha no fundo do horizonte. Em equilíbrio os velhos servem o pão fermentado, e as velhas amassam o milho e o fundem ao óleo, chamam de manteiga. Os animais arranham a terra batida permeiam e rodeiam o circundar da mesa, a mesa de madeira carnaúba enterrasse na tradição do almoço, o som “gaitoso” dos animais roucos acomoda o canto agudo dos pássaros azuis, eles preparam a revoada ao tilintar do sino velho. Nesse tempo onde a astrologia é regra e as fases da lua são leis, as casas mal dependuradas no alto dos morros, sobrevivem com o tênue equilíbrio do barro com a chuva e as casas agradecem aos gentis insetos que não as sucumbem. Os medos e as falas lembram um português espanholado, as mulheres carregam em si e nos seios um peso grego, um ar de tragédia nas roupas costuradas num amarelo arrependido pelo branco, parecem sempre secas e empoeiradas, o mar faz o som das hélices não inventadas e esse som é o primeiro passo para a invenção do avião. Foi o misturar da espuma do mar no áspero do recife recém formado que inspirou o piloto. As mulheres desse tempo não conheciam a cor da porra, ela que sempre era disparada internamente, preservava-se no mistério do útero. Laranjas obesas oscilando e ameaçando explodir em suco, o pombo, igualmente obeso, voando pesadamente pelo céu róseo, a vida obesa da natureza intocada se mistura ao bege esfarelado que prende nos sapatos também não inventados. Era de céu exageradamente estrelado e verdadeiramente representativo, onde as constelações eram demarcadas como as sobrancelhas do ser humano que é bonito. Tempo onde os parentescos eram todos de primeiro grau, filhos pais dos netos e irmãs mães dos primos. O matuto puxou a virgem de lado e perguntou – Não quer conhecer a força que move o mundo?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Reciclando . Acontece?

Os azulejos lisos refletiam as roupas brancas e impregnadas do cheiro de ceia triste. As pessoas davam voltas em si, transparentes umas as outras. Meia noite e ninguém se abraçou no 1 de janeiro. Toques polifônicos resultantes das discagens rápidas, e dos “enviar” sendo apertados ao mesmo tempo. Ela pensou em pegar o celular, abriu o visor e o viu desligado, tentou ligar e o viu sem bateria, não descarregado, e sim, sem A bateria. Olhou para os lados, estranhou o celular desmontado na bolsa, olhou para os lados, encontrou os olhos dele, com a bateria no bolso da camisa (branca por acaso).

- Fica comigo, passa o ano novo comigo, depois você liga.

- Preciso ligar para as pessoas!

- Não precisa. A gente não precisa ligar para ninguém.

Abraçaram-se e no mundo surdo de um ouvido só, ficaram juntos. Enquanto a parentada apertava o celular num ouvido e o dedo indicador no outro, ficaram juntos. Somente eles, humanos e envolvidos no meio de um hospício aberto habitado por pessoas ligando para quem estava no outro cômodo

domingo, 11 de dezembro de 2011

A palavra "cachorro" por "solidão"

A solidão roeu tudo, revirou o lixo, subiu na mesa.
A solidão me mordeu, mas ela nunca tinha feito isso !
A solidão é mansinha, pode passar a mão ...
Preciso castrar a solidão.

A solidão não pode sair sem focinheira

A solidão tá com vermes.
Pega a coleira, tenho que levar a solidão para passear.

A solidão babou em mim.

Pega a coleira, tenho que levar a solidão para passear.

A solidão precisa cruzar.

A solidão deu cria, doze filhotinhos, tão aqui em casa ainda.

Preciso doar os filhotinhos da solidão

A solidão precisa cortar as unhas, tá marcando todo o chão de tacos e arranhando as visitas.

Precisa dar banho nessa solidão, tá cheirando mal.
A solidão escapou e trepou com todas as solidões da rua!

A solidão tá com uma infecção, mas logo passa, é só tomar antibiótico e trocar os curativos...

A solidão latiu a noite inteira, pensei que tivesse ladrão.

Ela não tá brava, só faz assim porque quer brincar, a solidão não morde.

Preciso comprar ração e deixar água pra solidão, eu só volto amanhã e ela vai ficar sozinha o dia inteiro...

Ninguém consegue adestrar a solidão.

Faz tempo que não brinco com a solidão, ela passa o dia no quintal, tadinha, não tem espaço pra correr.

A solidão tá com um pêlo tão bonito.

A minha solidão ainda é pequenininha, ainda não sabe fazer as coisas no jornal.

A solidão gosta de roer ossos.

Ela aprendeu, eu jogo a bolinha e ela trás de volta, a solidão fica em pé quando quer pedir alguma coisa.

Ela sabe quando eu tou chegando, quando eu tou no portão a solidão já tá atrás da porta.

Dizem que as solidões só enxergam em preto, branco e vermelho.

A solidão foge mas sempre volta. As vezes volta toda suja, deve andar por todo canto.

A solidão se dá tão bem com o gato. Eu saio e ficam os dois sozinhos o dia inteiro, o gato nem liga.

A cama da solidão fica na área de serviço, mas lá faz muito frio pra ela.

A solidão vai precisar operar.

Toda solidão tem o nariz gelado e molhado.

A solidão tá com raiva.

Não vai ter jeito, vai precisar sacrificar a solidão antes que se espalhe pelo corpo
todo. Assim ela sofre menos.


Para o querido Dyl que também já viu gente levando a solidão na coleira.