sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Japonês Punheteiro e outras aventuras

Já falei dele uma vez, falei muito rapidinho por conta de achar o assunto forte-sujo, entretanto ele pede um texto solo, sobre como o mundo é estranho e tarado no vazio dos ônibus noturnos:

Ele tem os olhos negros mais tristes e profundos que já vi, isso não é uma descrição poética, ele é assim mesmo, tem olhos cor de latex preto, é de um desgosto atroz. Senta sempre no banco do lado direito do ônibus, e ali bate suas punhetas por cima da calça, ele começa sem se importar com nada, entra alguém e ele faz uma pausa. Depois volta, durante o ritual ele fica olhando pra cada um dos passageiros, homens, mulheres, cobradores, tanto faz, ele quer é olhar, e hoje eu cometi a maldade de sentar atrás dele, eu fazia silêncio profundo, na maior calma, de repente quando achava que o pupunha havia iniciado, eu tossia alto, esbarrava no banco, abria a mochila, testava toque de celular, cheguei ao cúmulo de puxar assunto com o cobrador, não tou louco, ele ficou puto comigo, ele sabe que eu sei, no nosso ultimo encontro, quando eu ainda não sabia, sem querer eu o vi, e ja naquele dia comecei a com a sinfonia de espirros e tossidas, mas hoje ele soube que eu sei e que sim, eu estava aloprando com ele, e que não, eu não gosto de ninguém se masturbando nos transportes públicos. O mais interessante é que ele virou, olhou pra minha cara e ficou putinho, fez cara de quem não curtiu, não satisfeito soltou um barulhinho de indignação... Levantei e fiquei esperando a porta abrir (2 pontos antes do meu ) , fiquei bem de frente pro solitário, olhamo-nos como se cada um pudesse dizer alguma coisa, eu acusá-lo e ele reclamar, eu xingá-lo e desmentir-me , 2 , 3, 4, 5, 6 segundos, foi aí que bem no meio da minha trégua o destino agiu, o celular dele tocou, era um pop moderninho, ele deu o maior pulo que a via Sambaiba já registrou. Foi aí que pensei nele tirando uma arma e me dando 2 tiros no peito. Ele cada vez mais psicopata, eu disse: “Algum problema?”, voz no diafragma, jogada pro grave* ele imediatamente olhou pros próprios pés, e pra minha surpresa o cobrador compartilhava do segredo “Relaxa, esses caras são foda” ...

Desci, vi a cabeça do japa virando-se na janelinha, ele ficou me encarando até sumir lá na próxima curva. Pensei nessa punheta cúmplice entre o japa e o cobrador... Percebi que o maluco fui eu.

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