domingo, 21 de março de 2010

Alguma personagem

Acho que morri, não acho mais graça nos meus amigos engraçados, não quero mais beijar minhas amigas lindas, desisto de fazer coisas que me excitam, absorvo conhecimento inútil, não transmito o que sei, calo quando quero dizer uma verdade e vez ou outra quando quero conversar, toco a mesma música no violão. Fui fortemente feliz. Um dia sem ruídos, com uma mulher linda, lembro que transei até me perguntar se tanto prazer pode enlouquecer alguém. Depois eu lembro de ficar deitado, olhando pro teto, sufocando com a pele do pescoço, sentindo todos meus dedos quase que separados, cada dedo uma unidade, cada dedo uma parte de mim, uma parte de prazer e carne consciente. Depois disso não sei o motivo, fiquei preso nos meus ombros, inseguro o bastante para sair com o gato só numa coleira. Eu só canto baixo. Acho que morri mesmo, não tenho mais vontade de domingo, esqueci o nome do meu restaurante favorito, nunca mais discuti para sentar na primeira fileira do cinema, aliás, nunca mais discuti por nada, para nada, nem com ninguém. Discutir é coisa das pessoas vivas, vivas demais para deixarem uma opinião morrer tão facilmente, coisa de gente agarrada as suas metas, sei lá... Coisa de gente que se importa consigo. Queria ser montado, me empilhar numas molas, numa calça larga e numa camiseta justa. Faz uma pirâmide à base de gel sem álcool, sei lá, essas coisas que te integram, essas coisas que te deletam de si. Ser o mundo inteiro, para não precisar ser só você talvez adiante.

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