Parte V
Aos 15, papai resolveu que eu deveria aprender outra língua, mamãe concordou e eu fui tomar as aulas no Mosteiro próximo de casa, deixei de ir para passear no parque, tinha medo daquele lugar, todo em pedra sabão, escuro e cheio de sombras e cantos tristes e baixinhos. Santos sangrando nas esculturas e gente chorando nos bancos, eu achava um lugar muito grande, os padres dali eram quase todos estrangeiros, ensinavam latim, francês e espanhol. Alguns dias depois de eu ter deixado de freqüentar as aulas que só me matriculei, padre Santiago ligou em casa, lembro que não me deu bronca, foi gentil e tinha a voz doce. De repente ele começou a falar em francês comigo, não entendi nada, e continuei sem entender todas as vezes que ele me ligava, mas eu adorava atender e ficar a tardinha toda escutando ele falando em francês comigo. Passaram-se dois meses assim, disse à papai que as aulas eram assim por que Padre Santiago não tinha tempo para marcar, então quando lhe sobrava tempo me ligava para dar uma lições, e assim foi, todas as tardinhas atendia e ficava embaixo da mesinha do telefone escutando ele falar francês e imaginando ele fazendo biquinhos nas palavras. Um dia resolvi ir vê-lo, conhece-lo de verdade, fui ao mosteiro, lembro da roupa que escolhi, perguntei por ele e disseram que iriam buscá-lo, esperei e dois homens vieram carregando um velhinho pelos braços, um de cada lado carregando um senhor de uns 70 anos, vestindo a batina preta, os cabelinhos do lado bem ralos e um babador bege. Sai correndo, não quis acreditar que aquele velho era o Padre Santiago que me ligava com voz doce, também nunca quis acreditar que fora ouvindo o francês daquele velho que me masturbei pela primeira vez. Nunca mais quis atendê-lo, inventei para mamãe que ele havia me dito coisas no telefone, eu sabia o que papai faria. Papai foi arrebentar padre Santiago, mas não fez nada, ele era muito velhinho mesmo.
a genialidade adquirida é tolerável, e eu espero que seja esse o seu caso, do contrário seria inevitável ter de me deparar com meu próprio desdém humano-decadente. isso seria um desaforo.
ResponderExcluirgosto de seus escritos. e bastante.
mARIA
Obrigadooo, Maria querida! Espero não te desaforar, dá um trabalhão fazer essas coisas, preciso ouvir muitas frases soltas na rua, mas é uma delicia... Seu blog me causa o mesmo desaforo, tou sempre relendo por lá, beijoos.
ResponderExcluirMarcio, eu devo confessar q. tenhu medo do que se passa em sua mente quando leio seus contos?
ResponderExcluirespero que tenha gostado
ResponderExcluirque maravilha, grande amigo artista!
ResponderExcluirtens palavras de sabedoria como ninguém.
admirável.
Pri t.
Brigado Pri! valeu pelo incentivo =] Espero correponder sempre, beijos
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