segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Do Solstício em Lâmpadas de Led

Cena dez - Se travesseiros fossem walk talkies, você teria cuidado com o que suspira?

O teatro rasgou o limite e agora esse palco é um país. Agora esse é o púlpito das nações unidas, agora, falando aqui, eu falo no ouvido do mundo inteiro e o mundo todo vai conhecer a minha essência única de ser humano otimista: A vida vai dar bem certo e em seis anos haverão pais dando uma educação bissexual aos seus filhos, filhos tendo seus órgãos clonados na primeira semana de vida. As pessoas da zona sul, que trabalham na zona norte, vão trocar de emprego com as pessoas do outro lado, ninguém mais vai cruzar a cidade, humanidade sem trânsito e tempo sem atraso! Tempo. A gente vai parar de pagar pra sonhar, a loteria vai virar brincadeira de criança, terno de balas, quadra de pirulitos. Os animais em extinção vão sair do mato e nunca mais morrerão. Cães não terão mais raiva, nem cães e nem mães. E eu ainda vou ser mãe outra vez. Os pais morrerão sempre antes dos filhos e Cuba será mais livre que o Sol num dia quente no verão... Vão abrir um rastro pelo meio da Europa e a Suíça vai ganhar um mar! As coisas vão dar bem certo também, de todos os jeitos. Em 25 anos o mundo inteiro vai ficar mestiço e vai surgir uma nova raça de pele colorida e cabelo optativo. O esperanto vai se firmar e a wikipédia vai existir num idioma só, enciclopédia livre com um idioma livre. Sabe quando você percebe que virou um lixo? Quando você mede os seus re-começos pelas vezes que você formata seu computador. Em 2018 ao formatarmos uma máquina sem permissão, seremos assassinos com pena capital. Somos 7 bilhões de seres humanos e nisso 3 bilhões de chineses. Em 2025 o mundo inteiro vai cheirar a papel moeda, sempre achei que se faz muito dinheiro, daqui pra frente encontraremos com sobras de dinheiro cortado e papéis higiênicos planando na brisa das manhãs frias. Mas o mundo vai dar bem certo. Hoje em algum canto do mundo é um Solstício, o dia mais longo do ano em algum canto e a gente se apertando pra caber em uma semana, em uma mensagem... Em um pio de pássaro ciborgue. Eu me enquadrando pra caber na foto sorrindo do visor do meu celular. A gente se curtindo se perseguindo, se torpedeando, se excluindo e o Sol se afastando da Terra, o dia durando mais e eu online cada vez mais. Meus olhos irritados com a fumaça dos carros e a lente olho-de-peixe do meu iphone pra chegar em 90 dias. 90 dias. E eu vi a vida passando na tela do meu computador. Meu iphone tem uma resolução melhor que a dos meus olhos, meu iphone é um grito de morcego que só os cachorros escutam. Em 25 anos os cegos virão para o teatro assistir uma peça, com seus olhos em fios e parafusinhos, mas não haverão mais atores para serem vistos. Os cegos curados perceberão um teatro expandido, entrarão em um teatro para ver uma peça e terão a surpresa de uma peça feita somente com sons, um teatro vanguarda só com melodias. Eu sonho em nunca morrer. Em pouco tempo terei meus sonhos dirigidos por diretores incríveis, Almodóvar dirigindo um sonho meu quando eu estiver apaixonada, eu quero poder comprar isso. Eu vou escolher quando e por quem me apaixonar, através de um programa de computador que eu poderei comprar pirata, eu vou ter coragem de usar um programa pirata no meu cérebro.

Última cena - Amor em óleo – As folhas tem ritmo e o peso é sensual.

Tem amor escorregando na janela das casas. Tem amor escorregando nas janelas das jaula-kitnets com uma cama e um microndas, nas kitnets de Amsterdãm, Praga, Chile, Peru, Vila Mariana, Santo André, nas kitnets do Haiti e de New York e da Praça Roosevelt. Uma luz profunda e imensa se acomodou em uma vida errada, como sempre são as coisas boas. A cor dos sonhos que escapam coloridos pela janela das casas. Uma janela virada pro Sol e o Sul em descompasso, cada dia o Sul em um lugar e o amor em outro ritmo. Tem um sorriso assoprando a lua e levando os astros pra longe. Intuição de chocolate para os amantes pioneiros. Seios apaixonados por dentes. Olhos verdes, azuis, coloridos e opacos. Meu bíceps comprometido com seu tórax. O barco se perdeu quando quis e a praia mudou sua definição: Praia, sol, lagoa e banheira com quatro amantes. Oito pernas, oito braços, quatro cabeças, 80 dedos e sementes de girassol para o papagaio. Um gozo apoteótico. A consagração do poste que apagou por conta de 8 temporais seguidos. O tamanho do mar na boca de quem tem Alzheimer e esqueceu-se do gosto do sal. Muita gente se separou e as ruas ficaram mais vazias no interior, os cavalos correndo loucos e as coleiras não tem mais significado. Todos os primos do mundo em um festejo de libertação. Evitaremos falar de Deus, nos viciaremos cada vez mais e assinaremos mais e mais contratos. Que seja tudo acordado com nossos órgãos e com os nossos livros preferidos. Um ritual de sacrifício para mergulhar dentro de um igual.

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