domingo, 19 de junho de 2011

Um respiro nariz com nariz desperta a vontade de adjetivar a vida, parei pra pensar no que realmente é “uma rua banhada de sol”, o banho no caso é o abraço d’água que a gente escolhe ou que, por ventura, nos surpreende gostosamente, e o sol, nesse caso, é essa coisa de nariz com nariz, olhos com olhos e boca com alma. Curioso como no prazer, a mão tende a revisar a organização do cabelo e dos traços da face, a gente ajeita os olhos como se dessa paixão eles pudessem se envolver e perder a simetria. Uma colher nesse caso não é medida. A gente de sorriso na cara pode ser filho por parte de pai, de mãe, mas esse céu azul com a cara do que a gente é, é filho por parte de quem? A gente precisaria partir pra ser tudo que a gente não é? A gente precisaria partilhar, pra ter tudo que nós temos? É a gente ou só eu? Quem pode se ouvir, no geral também pode se olhar, mesmo que olhando pra quem tem olhos maduros de sorvete de maracujá. Alguma Ana, em algum lugar, deve escolher meias estampadas com cerejinhas, só pra se sentir bem, na rua, no vício e na vida um pouco mais tranqüila pelo abraço das cerejinhas nos pés. A tal Ana deve se afligir com o conceito de meias, a tal Ana talvez prefira as coisas inteiras, como ela quer ser, como de fato são seus pés com cinco dedinhos contados e ajeitados no sapatinho que ela usa, usa, e nunca gasta. A vida delicada é um vidro feito de bala dura, dessa de anis, tão bonita a vida como ela é, como ela foi e como eu acho que ela talvez seja quando ninguém tá olhando. Assim com a Ana que eu nem conheço, escolhendo as tais meias-inteiras.

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