ou O Vivedor.
Olhando para um pássaro.
Onde é enlatado eu sou pergunta, porque se enlata as coisas, porque se abandona as coisas? Onde estão os amigos-diários do colégio? Qual a engrenagem do relógio do mundo, que é igual à engrenagem desses nossos relógios de parede? Não há qualquer relação entre ambos, por isso sentimos falta, nosso tempo é outro, é o tempo da saudade e da melancolia. Corremos para as desgraças como suicidas ansiosos, perdemos mais tempo enlatando ou abrindo as coisas? Mais tempo com fome ou comendo?
O pássaro levanta vôo.
Com os pássaros deslizando na liberdade eu volto a me sentir enlatado nos meus próprios pés. Não tenho motivo, sou meio por acaso nesse meio sem querer... Tou aqui seguindo pássaros pra ver se encontro uma alma irmã, uma fé, uma torta de amoras largada na janela, percebo que as tortas de amora moram nos filmes, e eu moro na vida.
Nada é natural, como se agora as árvores pudessem disparar laranjas, como se as maçãs, numa rebelião de maçãs, pudessem nascer todas com as minhoquinhas purulentas que a gente só vê nos gibis.
Não existem pais, nem mães, nem paz. Tou vendo que no mundo a gente só fala discussão e grita concordância, tudo é discussão, tudo é convencimento, negócio, vontade-contra-vontade. Gripados tomando suco de laranja, anêmicos comendo fígado, só sabemos agir no depois da existência, depois do fodido. Depois do “fodeu!”.
Como são gentis as estrelas que morrem. De ciclo em ciclo eu me esvazio em mim, um eu que já concorda com o frio, com as guerras e com a menstruação das virgens. Já fiquei bêbado entre montes e montanhas, que graça tem um bêbado sacaneando paredões rochosos no meio da areia avermelhada que só brilha porque já morreu?
Tou encarando flores pra ver se eu viro abelha, viver numa colméia de amigos e nunca mais perceber a solidão.
Olhei chorando pras minhas mãos, se pudesse olharia chorando pros meus olhos, queria me dar o maior abraço do mundo, queria que o mundo fosse maior pra que o meu abraço em mim; fosse maior ainda.
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