sábado, 5 de junho de 2010

Capitulo quatro –

Odete tenta retomar a vida no dia seguinte. Por sorte, dia de feira. Entre cenouras e cebolas Odete pode não pensar na morte, tenta superar de alguma forma, tenta esquecer o marido morto e vivo nos cabelos da filha, tenta não odiar Sarah pela sua viuvez. Escuta um rosnar por trás da banca de frutas, uma velha falando em árabe, Odete perde o norte e deixa as maças da sacola rolando pela calçada, a velha assusta-se, pergunta em árabe se esta tudo bem, grita se alguém sabe o que esta acontecendo, seu filho traduz, Odete convulsiona no choro, corre para casa. Grita para a filha:

- Sarah! Sarah!

- Oi mãe? Que foi?

Na sua loucura:

- Foi seu pai! Agora querem eu! Na feira! Você não sabe, cuidado filha, não fala com ninguém que você não conhece! Não fala!

Também desesperando:

- Como assim mãe? Quem? Quem? O que falaram? Cuidado o quê?

- Tava na feira! Não sei! Uma mulher tava rezando o pai nosso de trás pra frente! É morte! Entendeu? Morte!

Compreende e assusta com a superstição e a imagem do pai nosso no espelho:

- Como assim? Mãe. Calma. A senhora ta impressionada, vai deitar que eu te levo alguma coisa pra comer.

Um comentário: