sexta-feira, 4 de junho de 2010

Minha tia

Sonhei com minha tia que morreu com 87 anos, minha querida tia que conheci assim que nasci, minha tia que via em mim o filho que nunca teve, via em mim o reflexo do meu pai. Saudades da minha tia, as vezes, quando feliz, ela colocava a língua pra fora, me lembrava Einstein, mas agora Einstein que me lembra uma fase boa da minha vida, a fase onde minha tia tentava cozinhar algo gostoso e a fase onde eu não dava muito valor pra aquela velhinha que vivia querendo fazer-me comer. Saudades dos cabelinhos brancos, das blusas cortadas, dos olhos escuros, fundos e sábios, ela não teve tempo de ver-me cair nos braços do teatro, mas sempre disse que eu seria ator ou comediante, o Marcinho era tao engraçado. Lembro do jantar com minha tia, ela sentadinha na ponta da mesa, tão pequena que quase via-se só o topo da cabeça poente atrás da madeira. Era branca, tão branca. Com uns 10 anos eu descobri seu nome, não sabia mesmo, só chamava de tia, e meus amigos e meus pais, tia pra todos. Veio da Espanha, nunca se casou, nunca namorou, acho que morreu virgem. Minha tia foi um passarinho. Nesse meu sonho ela ali viva, olhando-me, mas eu a agredi, no sonho existia algo ali, um possessão demoníaca, acordei com medo de sonhar de novo aquilo com minha tia passarinha, só quero sonhar com a fritada de batata e o suco de laranja (com crosta de açucar no fundo)

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