quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Da obra de Nelson Rodrigues
Quando um autor precisa esfregar sua verdade em declarações assim, sentimos que o autor é algo além do homem, é um entendedor da humanidade, tanto de seus crimes quando de suas dúvidas e pequenos preconceitos, ele tenta nos redimir. E nós lutamos contra. Eis Nelson abrindo nossos olhos para sua obra:
.
“Morbidez? Sensacionalismo? Não. Eu explico: a ficção, para ser purificadora, precisa ser atroz. O personagem é vil para que não sejamos. Ele realiza a miséria inconfessa de cada um de nós. A partir do momento em que Ana Karenina, ou Bovary, trai, muitas senhoras da vida real deixarão de fazê-lo. No “Crime e Castigo”, Raskolnicov mata uma velha e, no mesmo instante, o ódio social que fermenta em nós estará diminuído, aplacado. Ele matou por todos. E, no teatro, que é mais plástico, direto, e de um impacto tão mais puro, esse fenômeno de transferência torna-se mais válido. Para salvar a platéia, é preciso encher o palco de assassinos, de adúlteros, de insanos e, em suma, de uma rajada de monstro. São os nossos monstros, dos quais eventualmente nos libertamos para depois recria-los.”
"O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
tudo bem que há nelson pulverizado pelo país inteiro e isso faz com que sua fala não pereça, mas será que se dá importância àquilo que o próprio rodrigues prega? Esse discurso - talvez - salvacionista de Nelson explica muita coisa de sua obra: alguns porquês se resolucionam. Acho incrível o 'o personagem é vil para não sejamos' - INCRÍVEL!
ResponderExcluirEnxergar a hediondez ficcional abre os olhos para a realidade e no caso do Nelson, essa função social ascende na troca experiencial do 'discurso' e do 'público'... é caretinha isso de troca partindo da tríade básica, mas aqui, cabe como uma luva [daquelas rendadas vermelhas de puta que é tão pertinente ao autor... hehe]
é isso ! isso mesmo ! as pessoas tem montado nelson por motivos outros. a produção barata atrai, mas a ideologia fica esquecida, meia dúzia de terno e outra dúzia de coxas não podem substituir os nervos da obra, muito menos do autor ! montando esquetes de peças, fazemos uma feijoada completa! ( mals ae chico) penso que cada peça representa um orgão dentro do organismo "Nelson Rodrigues"... Organismo que ele mesmo entende que poucos entenderam
ResponderExcluirBoca de ouro curtiu seu comentário sobre Nélson.
ResponderExcluir