sábado, 10 de outubro de 2009

Do livro-entrevista do meu mestre

Paulo Autran – Um Homem no Palco – Entrevista de Alberto Guzik.




Página 102

Autran - Quando estava montando o Burguês, em 68, tinha consciência de que estava levando um texto da maturidade de Molière. E eu, o diretor e o elenco tratamos a peça como ela tinha de ser tratada: como uma obra produzida no auge da capacidade do autor. Pois bem, o publico ria sem parar com as piadas de Molière. Era m espetáculo muito bonito, a direção de Ademar Guerra & Marika Gidali era ótima, mas o que fazia sucesso era a peça de Molière. Porque O Burguês Fidalgo não tem a ver com Molière do início de sua carreira, nada a ver com a commedia dell’arte. É uma comédia de costumes. E atualmente acho uma pena que, ao montarem essa obra-prima, as pessoas tenham a necessidade de inserir piadas tiradas de outras peças, de inventar gags visuais pára montar um texto que não precisa de nada disso. Como se os criados de trabalhos assim não confiassem na força do texto. Talvez seja uma questão de nível cultural. Os diretores menos inteligentes, menos cultos, pensam que Molière é apenas um pretexto para se fazer um outro tipo de peça. Mas nossos melhores diretores sabem que não é assim.

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