terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cena cortada.

Ela, aos olhos dele, vestia-se de deficiência perfeita quando nua, ela, refletida nos olhos dele, garantia-lhe uma cegueira seletiva onde somente os braços desapareciam. Nua, sempre perdia os braços, como as musas gregas, perfeita em colo e rosto.

Em troca ela o amava como tudo. Tinha sonhos onde lhe dava um filho por dia, sonhos onde ela mesma botava ovos e ficavam os dois diante da luz lambendo os ovos perfeitos botados por ela e fecundados por ele. Eles tinham filhos todos os dias. Não lhe bastava amá-lo como mulher, ela gostaria de existir como qualquer fêmea do mundo, se assim ele fosse o objeto do seu afeto. Ela apaixonada em qualquer espécie, mesmo que galinha, mesmo que nessa sua nova configuração de ser vivo ela precisasse carregar um nome no diminutivo “galinha”, “inha”, porque no caso, lhe emocinava ser casada com um galo. Ela sorria ao saber que seu macho vivia uma sociedade com o Sol e que era ele quem comandava o início dos trabalhos dos homens todos os dias. Sem medo algum ela sonhava com essas asas galináceas que não permitem o vôo, ela ao lado dele não via esforço algum em viver para sempre na Terra sem conhecer os suspiros do ar, sem medo algum ela era uma mulher que queria botar ovos para ele, para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário