segunda-feira, 25 de abril de 2011

Texto antigo que encontrei por aqui

O que passa e fica onde devia


Antes de começar a escrever fiquei tentando lembrar o nome dele, passei por "Alexandre", "Álvaro", "Al alguma coisa", "Al Al" e por fim lembrei que se chamava Steffano. Conheci o cara num colégio que passei uns seis meses inesquecíveis, me senti deslocado como nunca, só eu não fumava ou era enrolado com alguma garota da sala, só eu era novato por ali, eu e ele. Claro que a aleijão de cada um serve pra isso, começamos a conversar coisas do tipo "que saco cara" e algumas risadas de desprezo quando alguém contava que “se divertiu” como se o divertimento do mundo fosse ridículo, tudo isso para tentar dizer sem palavras "eu sou um cara legal, só aqui que eu sou babaca viu?" e adiantava, ele me achava inteligente e eu o achava... Estranho.

Realmente o cara tinha essa carga de protagonista americano, era alto, 1,90 mais ou menos, cabelo claro e uma tremenda cara de triste, às vezes usava uns casacos desbotados e puxava um cigarro com a naturalidade de quem suspira. Morava só com a mãe (aquela que ele atribuía alguns porres e brigas onde ele era sempre expulso de casa e era obrigado a passar uma temporada com seus amigos rebeldes sem causa). Lembrando agora acho que ele decorou cada fala de "Juventude Transviada".


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E foi assim por algum tempo, até o cara começar a ficar assustado do começo ao final das aulas, reclamava de tudo e de todos, nem me achava mais tão inteligente assim, começou a achar "O Poderoso Chefão" uma bobagem, aí deixamos de lado as conversas e nos integramos no basquete, ele era péssimo, mas fumava bem nos intervalos. Foi o meu melhor amigo naquele tempo, falava pouco (eu também) era querido pelas garotas e nunca dava confiança (eu também) e não por que fosse arrogante ou qualquer outra coisa assim, simplesmente porque era tímido (assim como eu). Um dia qualquer o cara me olha com aquela cara de morte e diz "Vou me mudar pra Goiânia com minha mãe", e foi mesmo. Sumiu uma semana e um dia apareceu pra me dizer um adeus muito sincero (na verdade foi só pegar uns documentos e trombou comigo no corredor) mas eu soltei um, "nos vemos por aí cara" e ele pela primeira vez pareceu se desarmar do seu “passado legal" e disse "é cara, nos vemos sim, se cuida" demos um abraço (ou foi um aperto de mãos?) curto e desajeitado de adolescente...

E foi isso, o cara nunca mais foi visto e nem sei por que cargas lembrei-me dele.

Agora revisando lembrei de uma coisa... O passado legal dele era sempre relacionado a ficar bêbado ou flertar com alguma garota numa festa estranha que ele nem tava afim de ir... Engraçado que tenho certeza que ele era tão “certinho” quanto eu.


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Encontramo-nos no Orkut, trocamos alguns recados e nunca mais... Foi uma amizade de momento, circunstâncias e medo da solidão no colegial (o que é realmente de assustar), ainda hoje acho que aquilo foi sincero e agora penso que às vezes ele deve lembrar-se de mim, o cara de rosto triste que era seu reflexo perdido por aí...


postagem original : http://pensandopraesquerda.blogspot.com/2010/01/o-que-passa-e-fica-onde-devia.html


Blog é lembrança.

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