sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano a cobrar.

Os azulejos lisos refletiam as roupas brancas e impregnavam o cheiro de ceia, as pessoas davam voltas em si, transparentes umas as outras. Meia noite e ninguém se abraçou no 31 de dezembro. Toques polifônicos resultantes das discagens rápidas, e dos “enviar” sendo apertados ao mesmo tempo. Ela pensou em pegar o celular, abriu o visor e o viu desligado, tentou ligar e o viu sem bateria, não descarregado, e sim, sem a bateria. Olhou para os lados, estranhou o celular desmontado na bolsa, olhou para os lados, encontrou os olhos dele, com a bateria no bolso da camisa.

- Fica comigo, passa o ano novo comigo, depois você liga.

- Preciso ligar pras pessoas!

- Não precisa, a gente não precisa ligar pra ninguém.


Abraçaram-se e no mundo surdo de um ouvido, ficaram juntos. Enquanto a parentada apertava o celular num ouvido e o dedo indicador no outro, ficaram juntos. Somente eles, humanos e envolvidos no meio de um carrossel de pessoas ligando para quem estava no outro cômodo.

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