quarta-feira, 31 de março de 2010

Suco de Uva

As vezes é injusto ter um dia calmo, tranqüilo e feliz. Voltei da churrascaria com meu pai e minha mãe me esperava com um ovo de páscoa, tocou o celular e meu pai logo me contou que havia falecido a mãe de uma funcionária antiga. Pois é, não a conheci, não sei seu nome nem nada assim, só sei que dinheiro ela não tinha, deve ter ficado em um triste hospital público, ela também não sabia meu nome e a notícia quase não me tocou, meu pai disse, eu computei e em alguns minutos depois, tomei suco de uva, dei um gole no suco e pensei comigo "gostoso" então, só então eu reparei que morrer significa: Nunca mais tomar suco de uva. Acabam-se tantos prazeres com a morte, desde o suco até o ovo de páscoa, a companhia da família, a solidão voluntária, o sonho, a vontade de dormir, o dormir, o acordar. Agora escrevendo eu penso de novo, será que ela teve esses meus prazeres? Será que essa senhora pobre tinha um ovo de páscoa à sua espera? Será que ela podia dormir até mais tarde numa quarta feira preguiçosa? Será que quando eu morrer um desconhecido vai escrever sobre mim também?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Medida por medida

Ser inteiro por dirigir e ser dirigido. Compreendo a vida assim, às vezes sou injusto e às vezes injustiçado, parece aquele velho joguinho de contradições que habitam meia dúzia de "orkuts" mas não é. É algo mais profundo, sincero e completo. Quando se compreende que se é feliz porque temos tristezas, isso é pra valer. Inaugurar o pensamento com uma contradição nova é esclarecedor, seja qual for o momento, descobrir que você tem amigos simplesmente porque é agradável, ou que você não tem amigos simplesmente porque não agrada... Saber que você deixa saudades porque é engraçado ou gentil ou mesmo por nada, por motivo nenhum, por moda nenhuma. É um mecanismo da vida, esse de contrapor e tirar a lógica de fatos e pessoas, medida por medida a gente descobre quem a gente realmente é, ou se a gente não é ninguém mesmo...

domingo, 28 de março de 2010

Da peça nova : Dramaturgo de Meninas.

Jaqueline me dá outro beijo beijoca? Não precisa ser beijão “beijocão”, pode ser beijinho “beijoquinha”, mas dá? E depois me empresta seu suéter de lã? Não gosto das minhas roupas de algodão, elas são muito fininhas! As de lã me deixam mais cheia, não deixam? Mas quero o suéter amarelinho. Não, esse não. O suéter amarelinho mais claro, cor de gemada caprichada no açúcar. Que, que é isso! Jaqueline! Não me deixa sozinha, ta escuro e eu sou tão branquinha e se o escuro me engole? E aí? Bom aí você me acha pelo suéter viu? Por isso que eu quero, ai, ai, agora me deu calor, melhor eu tirar essa roupa e...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Uma fábula de Bosco Brasil.


Novas Diretrizes em tempos de paz

Ando longe desse mundo da crítica, não sou crítico mas gosto de recomendar. Fiquei rendido e quase aplaudi o filme, é uma mostra de que o cinema brasileiro é e sempre foi muito vivo. Dan Stulbach dá uma aula de interpretação, a verdade da personagem compromete o resto do filme, nada ali existiria sem ele. Tony Ramos tira um ser não sei de onde, cria um universo intero que grita em cada fala, os dois atores em cena representam o teatro. O bom teatro. Arte viva e expressão artística, o texto é excelente e é uma declaração de amor ao teatro, a direção acerta. Um dos melhores filmes que vi na vida. Eu que não entendo muito de iluminação percebi que a temperatura das cores é precisa, no ponto. O nó não sai da garganta de jeito nenhum... Fiquei contente com Dan Stulbach, com Tony Ramos, com Daniel Filho, com Bosco Brasil e por fim... Com o cinema brasileiro que aprendeu a se levar a sério. O filme é ritmado, é seguro do que quer e de onde quer chegar, é justo com o tema, justo com o público, não tem clichês fracos, é forte e rende até o limite, um filme que nasceu clássico.


* título original:Tempos de Paz
* gênero:Drama
* ano de lançamento:2009
* direção: Daniel Filho
* roteiro:Bosco Brasil
* fotografia:Tuca Moraes
* direção de arte:Marcos Flaksman
* figurino:Marília Carneiro

Encantadoras

Existem mulheres que encantam por parecerem sempre sozinhas. Parecem alimentar-se em rotisseries pela vida, cabelos e olhos morenos, roupas leves, algo do verão por onde passam. Não entendo mas é uma classe encantadora. São agradáveis, meigas, respiram com leveza, nos fazem pensar que as queremos ao nosso lado em todos os dias que terminam com garoa, mas o segredo está justamente nisso, em não pertencerem à ninguém, em não sofrerem por nada, por serem vazias e não deixarem ninguém descobrir esse buraco, então vestem roupas de menina e saem por aí, criando paixões e deixando saudades, cravando eternas sensações. Não quero descobrir nenhuma dessas verdades, gosto dessas amantes que nunca tive, gosto desses encantos que só me fazem lembrar, uma vez eu encontrei o buraco vago de uma delas, me meti na tristeza que só pertencia à ela, descobri o segredo de uma criança sem pedir licença, por isso hoje eu fico de longe, afastado, rezando para não conhecer ninguém o bastante, ninguém ao nível de saber que o mundo inteiro é desapaixonado, nunca mais quero conhecer alguém até esse limite. Na verdade elas não apaixonam, elas encantam. Ando forte com essas coisas, tenho amigos que andam caindo por aí, não sei se quem vive são eles ou eu... Ou talvez eu já tenha vivido minha parte nessas coisas, ou talvez meu destino seja mesmo passar pela vida delas, como passo, como passei, como elas passam, como eu gosto que passem. Não há de ser um sofrimento, talvez não tenha nada a ver com paixão, amor ou tesão, é algo como amizade e admiração... Encanto e vontade de compreendê-las, saber de onde vem e para com vão
(se é que vão e se é que elas querem que alguém saiba).

quarta-feira, 24 de março de 2010

Homem domesticado

O cabelo ainda empastado com cheiro de molhado e moderno, brilhando com o gel azul do pote. A calça ainda tinha um pouco do vinco, a camisa não guardava mais o cheiro do amaciante. O gostoso era sentir que o sapato havia lanceado e os pés estavam confortáveis. Serviu-se da comida fria, colocou na máquina, programou e em absurdos dois minutos estava tudo quente e canceroso. Colheu os talheres na primeira gaveta e um guardanapo de pano na segunda, sozinho em casa à meia luz, parecia sozinho no mundo. Olhou para o prato, olhou para si, sentiu a barba crescendo naquele minuto, sentiu seu cheiro suado e viu as unhas roídas, era ele um animal. Colocou o prato no chão, ficou de quatro e comeu, roeu o osso do frango, dormiu, acordou melado, tomou um banho e foi trabalhar.


. Já pensaram? Seria uma delicia chegar em casa e fazer isso, sei la... Ficar nu e dormir com os cachorros, dormir no chão da sala, comer com as mãos e melar a cara... tomar água com a língua limpar a boca no braço...

Menos um pecado

Dirigi a cena de uns amigos, um texto bem complicadinho, cheio de imagens, estereótipos, poesia e dor. Dei a sorte de ser convidado pra ajudar na direção, fui com todo o prazer, é pra uma montagem de grupo, dei meu melhor, li, pesquisei estética pra cena, formei algo e passei pra eles, eles corresponderam MUITO. Ficaram os três muito amarrados na cena, fiquei feliz. Acho que fiz um bom trabalho e aprendi horrores... O melhor é que ainda não acabou. Como eu amo dirigir. Como eu amo gente comprometida. Como eu amor arte e artístas. Falta muito ensaio. Falta muito e pouco ao mesmo tempo... Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é? Eu sei.

terça-feira, 23 de março de 2010

Trechos e recortes de Chico Buarque

"E nada como um tempo após um contratempo
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando, até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando"
(Jorge Maravilha)

.
"No colo da bem vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer"
(Samba e Amor)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Feli(cidade)

Agora faço “contação de histórias”, alguma coisa criança ficou feliz em mim, que área interessante essa, pura, infinita e densa ao mesmo tempo... Percebi que o que me faltava era aprender algo. Não me basta escrever, gosto de aprender, errar, propor, tentar...
A tal felicidade que eu desencontrei um tempo atrás, voltou como antigamente, voltou com um sol dourado, um despertador me despertando, um sábado importante para minha vida. Gente culta, gente inteligente, gente que não conheço bem. Garotas que me olham nos olhos, livros que eu não entendo na primeira leitura, essas coisas pequenas que sempre moraram nos meus sábados e na minha vontade. Ando feliz, me vestindo bem, usando roupas claras e o cabelo curto. Sinto que meu coração voltou a ter importância, minha cabeça voltou a pensar coisas gostosas, não preciso mais pensar no lado escuro da vida, acho que já tive minha experiência com ele, agora é só viver e viver, o presente como uma maça gostosa, doce e madura.

O que me deixa feliz mesmo é o gosto de cidade, metrô, metal por todo lado, gente ocupada, gente com vida que não conheço e tanta coisa lá fora.

domingo, 21 de março de 2010

Alguma personagem

Acho que morri, não acho mais graça nos meus amigos engraçados, não quero mais beijar minhas amigas lindas, desisto de fazer coisas que me excitam, absorvo conhecimento inútil, não transmito o que sei, calo quando quero dizer uma verdade e vez ou outra quando quero conversar, toco a mesma música no violão. Fui fortemente feliz. Um dia sem ruídos, com uma mulher linda, lembro que transei até me perguntar se tanto prazer pode enlouquecer alguém. Depois eu lembro de ficar deitado, olhando pro teto, sufocando com a pele do pescoço, sentindo todos meus dedos quase que separados, cada dedo uma unidade, cada dedo uma parte de mim, uma parte de prazer e carne consciente. Depois disso não sei o motivo, fiquei preso nos meus ombros, inseguro o bastante para sair com o gato só numa coleira. Eu só canto baixo. Acho que morri mesmo, não tenho mais vontade de domingo, esqueci o nome do meu restaurante favorito, nunca mais discuti para sentar na primeira fileira do cinema, aliás, nunca mais discuti por nada, para nada, nem com ninguém. Discutir é coisa das pessoas vivas, vivas demais para deixarem uma opinião morrer tão facilmente, coisa de gente agarrada as suas metas, sei lá... Coisa de gente que se importa consigo. Queria ser montado, me empilhar numas molas, numa calça larga e numa camiseta justa. Faz uma pirâmide à base de gel sem álcool, sei lá, essas coisas que te integram, essas coisas que te deletam de si. Ser o mundo inteiro, para não precisar ser só você talvez adiante.

sábado, 20 de março de 2010

Doente de poesia da vida

Vi uma mulher feia levando um menino lindo pela mão, acho que filho sei lá! Sei que fiquei o dia todo com isso na cabeça, a mãe feia do menino lindo, isso me atormentou durante a aula, depois durante uma palestra, cheguei em casa e esfolei o texto todo no teclado, resultado: Não gostei do resultado. Escrevi, pensei, fiz, refiz e nada... Na verdade eu percebo que o tema não é tão lindo assim, mas sei que se eu não o tivesse escrito eu estaria com ele aqui enfiado na cuca, roubando espaço do futuro. É assim, ou a gente arranca do coração ou deixa que a coisa fique embolorando outros órgãos. Ou você mata a idéia ou ela mata todas as outras que estão por vir. Vomitem tudo. O que você tira de dentro de você é essencial para exercitar esse movimento de ida e vinda da criação. Pensar dói.

Eu fui fazer um samba (e desisti)

Faz tempo que não falo das coisas que vejo, acho que isso perdeu muito do antigo tesão, antes eu falava como quem analisa, hoje eu não analiso mais nada, eu só "percebo”. Percebo estilo, percebo proposta, não adianta mais falar das minhas percepções, elas tem sido muito minhas, muito íntimas e muito ligadas aos meus ideais no teatro talvez dizer "a cena tinha muito daquilo que eu vejo no ônibus pro frei caneca" não seja o mais bacana, mas para mim isso resume um universo, meu universo constrangido.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Descrição no Japão

- E como ele era?

- Era mais ou menos assim... Tinha cabelo liso e preto, olhos puxados, pele da cor da minha e mais ou menos minha altura.

- Só isso?

- É, acho que sim.

( As vezes tentando escrever... Escrevemos cada BOBAGEM !)

Trecho (novo) do conto novo

"Tanta coisa eu deixei de fazer. Tanta coisa eu esqueci que queria ser, tantas vezes eu vivi automaticamente que acabei esquecendo de como é ser eu mesma por prazer, o mundo ficou surdo e nunca mais me ouviu chorar, aprendi a engolir o choro por isso, e o último pássaro que ouvi cantando foi em alguma lembrança que deixei escapar e colorir meus ouvidos."

segunda-feira, 15 de março de 2010

Serei para sempre

Serei para sempre o cara diferente que ficava sozinho em casa depois do colégio o cara que alguns amigos nunca entenderam, mas gostavam da companhia, sinto que serei assim em algumas lembranças e em outras acho que nem existirei. Fico feliz de fazer parte do imaginário coletivo de alguns amigos... "Você ainda fica sozinho em casa?", "lembra quando ficávamos tomando coca e escutando legião?” Sinto que essas pequenas coisas fizeram parte de uma época feliz da vida de alguns companheiros de estrada, assim como eu sempre me lembro do piso brilhante de madeira avermelhada do apartamento de um amigo. A vida é basicamente isso, criar memórias boas e adorná-las com nostalgia,por isso eu serei para sempre o amigo diferente que ficava em casa escrevendo e tomando coca-cola. Engraçado como isso me faz feliz. Tenho vontade de filmar coisas assim, ou traduzir em palavras, filmes, roteiros, poesia e teatro sobrevivem disso, pelo menos no meu coração existe lugar só para esses dramas humanos, essas sensações e esses dias inesquecíveis. Ser uma lembrança boa é uma delicia.

sábado, 13 de março de 2010

Saudades do que ainda tenho (?)

Um velho amigo, um homem que eu sempre enxerguei como um exemplo, desde molequinhos, nele eu já via hombridade, respeito e talento pra ser feliz, meu melhor amigo talvez, desde sempre ele me acompanhou, rimos de coisas sem graça, brigamos por bobagens, mas sempre eu soube que seria ele meu amigo para sempre, acho que ele também acreditava nisso, acho que já cheguei a chamá-lo de irmão. Talvez tenha sido o teatro, ou talvez não tenha sido nada, fato é que ele não mais fala minha língua, nunca mais consegui contar-lhe uma angústia, engraçado que ele continua meu amigo, sempre penso nele, e ele em mim com certeza, mas não temos mais nada em comum, além da saudade de sermos amigos, irmãos, confidentes e colegas de escola. Talvez tenha sido meu teatro ou a família dele que sempre me achou uma péssima amizade (eu nunca soube o motivo)... Meu 1,80 ou o cabelo curto que ele começou a usar sem me avisar que mudaria o corte. Sinceramente eu não sei, mas acho que essa é a minha amizade mais antiga e hoje em dia, mais nostálgica. Falsa? Acho que não, ainda gosto dele como um irmão, ainda lembro dele quando escuto "você meu amigo de fé..." portanto não pode haver falsidade. Talvez um respeito pelo nosso passado de amizade e camaradagem, isso sim pode existir, mas eu acho que nisso prefiro me enganar, prefiro acreditar que de alguma forma ele compreende que eu mudei, mas que para sempre teremos esse vínculo de amizade e de anos incríveis. Acho que vou tentar puxar algum assunto dia desses, talvez eu até lhe diga que ele faz uma falta colossal, mas seria bobagem minha, ele sabe que faz e eu sei que também faço. Não fazíamos coisas grandes, nada como viajar juntos ou namorar duas irmãs gêmeas... Éramos mais simples e sinceros que isso, gostávamos de adivinhar o que seríamos no futuro, e hoje no futuro, temos a resposta que nunca daremos um ao outro.

Surpresa x Indiferença

Esses dias tive um dia agitado, quase nunca os tenho, mas nesse dia tudo parecia urgente e final, tive uma reunião sobre um projeto, depois fui ao lançamento do livro de uma amigo e emendei uma peça, claro que fiz minha famosa cara de " ahh , vou ver essa peça" com desanimo e moleza, fiquei de quatro. A peça tava linda! "A Tempestade" de William Shakespeare. Que texto lindo! Que montagem interessante cheia de pensamento, cheia de corpos vivos em cena, cores deslumbrantes, atores muito bem centrados no seu trabalho, desenhos fantásticos, acho que continua por lá ( Memorial da América Latina), eu que estava desmanchado na cadeira terminei o espetáculo bem na pontinha da poltrona, salivando e perdendo o fôlego, o teatro cura o espírito. E o bom teatro ainda me faz virar espectador puro e sóbrio de teorias, ainda bem!

terça-feira, 9 de março de 2010

Pra não dizer que não falei dos mitos

Eu juro que nem percebi o Oscar, é tradição na minha fámilia assistir a cerimônia todos juntos, ficarmos repetindo "oscar goes to", e combinarmos de assistir os vencedores de "melhor filme", mas esse ano foi tão diferente, acho que minha mãe nem falou a palavra " Oscar" , muito menos meu pai. Hoje acordei e vi no jornal a lista, nem me dei ao trabalho de ler, o Oscar perdeu tanto do seu brilho. Na verdade eu nunca fui apaixonado, mas agora que eu penso mais em arte, cinema, atores e rumos, isso me pareceu mais bobo do que nunca. Acho que enquanto era apresentado o Oscar eu assistia o desenho animado do Batman e tentava dormir. Todas as pessoas que eu vi comentando a premiação comentaram com descaso, com ar de saco cheio, elogiaram alguns vestidos e só. Não senti a menor obrigação de falar sobre o Oscar aqui no blog, mas acho que eles não devem ter se importado com isso. Onde foi parar o mundo que parava pra ver essas coisas? Copa, Oscar, Olimpíadas, jogo do Brasil, último episódio da novela... Acho que o mundo esta ficando mais ciente de que o que realmente importa não passa na televisão.

domingo, 7 de março de 2010

Doente de direção

Nunca mais conseguirei ver nada com olhos ralés e despretensioso, para mim as cenas do mundo são cheias de sentimentos e texturas, tudo que acontece pertence à um estilo, já fui em festas surrealistas, bares expressionistas e tantas outras coisas indefiníveis. Para quem segue o mundo da direção, viver atentamente é babar de vontade, não seria incrível dirigir um assalto à mão armada? Ou dirigir a primeira noite de sexo de um casal que acaba de se conhecer. Penso que o grande jogo de dominós que alguns chamam de “destino” é algo lindo de se observar. Às vezes quando me vejo sozinho em algum lugar, seja no meu quarto, seja no último vagão do metrô, fico cismado em “como só eu no mundo todo estou aqui”, qual a função dramática desta minha ação no espetáculo? Eu queria poder dirigir cenas da vida real, até dirijo, mas só eu vejo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

My Girl

O problema é que ela não é minha, trata-se da garota mais perfeita que já conheci... O tipo de mulher que olhamos e esquecemos de tudo, fico feliz dela ter conhecido o melhor “Marcio” possível. Minha timidez e a dela ficaram-se paquerando um tempo e então o absurdo aconteceu, rompi o silêncio. Eu sinceramente acreditei que fazia o certo e acho que fiz mesmo. Ela arregalou os dois olhos mais lindos do universo, sorriu o sorriso mais lindo do mundo e falou toda empolgada, sobre sua vida, sobre seu passado, sobre quem ela pensava ser, sobre quem queria ser. Falei frases cortadas, mais sorri do que falei, mais olhei nos olhos do que escutei. Talvez minha mente adolescente tenha fermentado um clima mentiroso, mas acho que não, aquela garota-raio-de-sol, estava mesmo correspondendo. Os olhos abraçavam os meus e os sorrisos correspondiam com carinho, virei em 15 minutos um garoto de 15 anos, perdido, feliz, ansioso e articulado como um cachorrinho contente. Meu espírito fez tanta festa que contagiou o dela, senti alegria no momento todo. Depois silêncio. Depois alegria de novo. O melhor de mim soube exatamente o que fazer, não era o momento, engraçado que eu posso nunca mais vê-la, mas definitivamente aquele não era o momento de um passo ousado, era hora só de flertar com a vida e sofrer de paixonite aguda, comunico que não posso desistir, não devo e nem quero, ela é tão perfeita que nem me deu tempo de conhecê-la melhor, para não perder o encanto. Foi o mais puro James Dean e Natalie Wood, as inquietações e as vozes sussurradas deram o tom. Sorrisos, muitos sorrisos. Confesso que o assunto foi um tanto banal, mas os corpos estavam inesquecíveis. O nó no peito indescritível e “My Girl – (The Temptations)” deu-me um breve adeus, com cara de “te vejo por aí”... Sobrou uma noite infinita.

Atirado, atraído e rejeitado

Atirei-me pela segunda vez no processo seletivo da SP Escola de Teatro, me sinto muito atraído pela escola, mas fui rejeitado pela segunda e retumbante vez. Não sei se é a minha vontade de fazer ou se é minha prepotência que me cegam ao ponto de eu não entender o motivo, a seleção por redação eu mereci, fui prepotente o bastante pra escrever o que eu tinha certeza que eles não gostariam de ouvir. Talvez se eu tivesse escrito algo pra agradar, também não tivesse sido aprovado o que é bastante provável. Dessa segunda vez o golpe veio da parte do Curso de Difusão, seleção feita por currículos, talvez o meu seja fraco mesmo, não sei se aceito o fracasso ou se fico sentado prepotente pensando em motivos mesquinhos para eu não ter passado nas duas seleções... Não sou um ser humano bom o bastante para ponderar essa situação, no momento estou me sentindo o cara mais injustiçado do mundo. O problema é que só eu sei o quanto preciso de teatro, talvez se os outros soubessem, as coisas fossem mais fáceis. E claro que além da chateação de não ser aprovado eu somo também essa novidade, descobrir que ainda sou mesquinho, prepotente, arrogante e egoísta. Por que eu deveria passar? Eu? Quem sou eu? Por que eu mereço mais que alguém? Engraçado é eu saber que preciso de respostas para estas perguntas, saber até quais são as respostas “certas” mas não acreditar em uma só palavra de humildade. Eu queria ter passado e pronto. Eu merecia ter passado e pronto. Ainda sou mimado e pronto. Mas uma coisa eu ganhei, quando não li meu nome na lista a primeira coisa que pensei foi “saco, tenho que esperar a próxima”... Pois é, na próxima seleção lá estarei eu, com meus dois nãos e minha prepotência, pisada e espero eu que diminuta. Não vou deixar de tentar, e nem vou tentar deixar o teatro, nunca.